quinta-feira, 20 de maio de 2010

UM TEXTO INVENTADO

Existem momentos, doces momentos, que me deixo levar numa viagem tão maravilhosa que ela, por sí só, já enche o meu peito de alegria. Gosto de partir nestas caminhadas sem rumo, sem destino, viagens tão longas e profundas e, ao mesmo tempo, não precisam sequer de um passo, mas, que deixam em mim marcas tão indissolúveis que irão acompanhar-me para todo o sempre.

São mergulhos introspectivos buscando me conhecer, querendo me reconhecer, esquadrinhando as muitas lições e percalços que a vida me deu (e trouxe), remexendo a sabedoria que ficou encalhada nos sedimentos do leito de minhas experiências.

E tudo o que tenho desejado nos últimos tempos, não são mais bocados de inteligência, ou agregar-me cultura farta e diversificada, ou, ainda, cultuar a esperteza dos lobos – quero a sabedoria dos mestres, dos homens que sabem viver com o pouco que a vida lhes deu e que conseguem ser felizes tirando o máximo deste mínimo.

Dia desses, numa dessas viagens, visitei minha infância e revi o garoto feliz que fui. Vi-me chutando bola de meia, brincando de pega no meio da poeira, pezinho nu no chão de areia, a boca suja de fruta colhida no pé, calção pequeno e já gasto, o sorriso gravado com o fogo da felicidade na face da criança.

Percebi que nesta época tinha muito menos do que tenho hoje, e era muito mais feliz do que sou atualmente. Isso me dá uma lição de vida incrivel, pois testemunha com fé que a felicidade não está mesmo nas coisas que se conquista e que se acumula por este caminho cravejado de pedras preciosas falsas; a felicidade está dentro da gente, naquilo que somos, que pensamos, que queremos, que desejamos, que cultuamos para nossa vida, que foi fabricado junto com o mesmo barro que nos construiu.

Digo adeus à idolatria moderna que é profetizada por uma sociedade que está contaminada de valores mundanos e medíocres.

Resgato a fantástica capacidade de ser feliz com a simplicidade, com o olhar à frente e ter a convicção de que tudo o que quero no dia seguinte, é estar ao lado de quem amo para inventarmos qualquer nova brincadeira – tudo o que quero é trazer de volta a capacidade de brincar... brincar... sem eletrônica ou maiores sofisticações!

Este texto, acreditem, não nasceu para ser filosófico. Não quis que ele ficasse acenando lições de felicidade e verdades que são minhas – cada um tem a sua verdade e meu espelho colocado na frente do rosto de todos os outros, provavelmente, não terá a capacidade de refletir sua face em um espelho que é somente meu. Minha verdade é meu espelho.

O que queria quando comecei era contar uma velha história infantil de quando vi a primeira dentadura, e do terror que senti quando ela foi retirada da boca do seu dono deixando-a macilenta, murcha, completamente sem vida, os dentes brancos sorridentes arreganhados para mim num riso bizarro e afogados dentro de um grande copo d’água. Puro horror senti... Nunca soube até então que os dentes poderiam ser artificiais, encaixáveis, e demorei muito para entender o que se passava...

A verdade é que me deixei levar por outros caminhos que não programei para este texto, a vontade original era apenas encantá-los com esta história da dentadura...

Provavelmente deixei-me dominar pelo Gilberto curumim que fui um dia e, voces devem se lembrar das gurias e guris que também já o foram, e, portanto, sabem bem, crianças nunca programam nada, elas se ajuntam e inventam.

Exte é meu texto inventado, se encanta ou não encanta são outros méritos que escapam ao meu controle ainda que ele possuir esta capacidade flerta intimamente com meu desejo.

Não vou cair de joelhos rogando para que o texto que escrevi tenha a capacidade de fazer-lhes suspirar poesia por seus olhos doces e sensíveis. Louvo, isto sim, para que ele retire de dentro de voces as crianças que foram um dia, nem que seja por um momento dentro do tempo de adulto – se conseguir isto, duas coisas acontecerão, com certeza: a primeira, voces entenderão o que sinto agora ao lembrar-me de minha infância e do guri que fui; e, segundo, perdoarão-me por ter me desviado de meus propósitos sinceros originais e esquecido de contar da história da dentadura – as crianças, sempre perdoam...


Foto: Thayz Mendes

10 comentários:

G I L B E R T O disse...

POST SCRIPTUN

Hoje, 20 de maio, nel mezzo del cammim faz 03 (tres) anos de existência.

Neste tempo, ele tem resistido a tudo, à fúria do cotidiano que me joga por vezes para aqui e para ali; ao meu próprio desestímulo que brota de quando em quando, sou mortal e tenho minhas fraqueza.

Hoje, sinto ele tão presente em minha vida que, ainda que aumente ou diminue minha frequencia, ele está em mim, vive em mim, como se eu fosse parte dele, como se ele fosse parte de mim.

Mas, tanto eu como ele não seríamos nada e ninguém se não fosse os muitos amigos que fizemos por aqui.

Não queremos loas, encômios, aplausos e foguetórios pirotécnicos para nós próprios (eu e nel mezzo del cammim) - tudo isso, seja dedicado com generosidade e abundância a voces, meus amigos, que fazem deste recanto um doce lugar que gosto de estar.

Um beijo em vossos corações!

Gilberto
nel mezzo del cammim

SolBarreto disse...

Inventado ou não e um lindo texto...
E coloca muitos com certeza a refletir e a lembrar a infancia...eu então nem se fala...vivem me chamando de saudocista, pois vivo indo ao passado rescatar muitas vezes aquela Solange que ja fui...
Tenho levado muitas vezes a fama de pessoa "sem ambiçao", e sempre digo que apenas ambiciono coisas diferentes...
Ambiciono viver bem, proximo as pessoas que eu gosto, ambiciono por um dia alegre, por amigos, por saude, por sabedoria, por humildade,por bem estar a todos que gosto e por um mundo onde as pessoas se respeitem mais... acho que isso tem mais valor que bens materiais e esse texto me fez lembrar dde tudo isso novamente!
Que a felicidade esta nas coisas pequenas, nas alegrias diarias, como aquelas da infancia...
Adorei o texto!

SolBarreto disse...

Ops desculpe meus errinhos de portugues rsrrs
*saudosista
*resgatar

Cris França disse...

Gil

sabe que me lembrei da primeira vez que vi minha mãe sem dentadura, eu era pequena, tinha uns 9 anos mais ou menos e ela foi internada, num estado muito grave para um cirurgia.
Quando entrei no quarto, e a vi, deitada, de cabelo branco sem brinco, aliança, e sem dentadura, nossa foi um choque ver a boca dela daquele jeito.
A boca mucha como você descreveu e a preocupação tornavam a cena ainda pior.

Sinto saudade da inocência que eu tinha, da força de vontade de lutar pelas coisas, inevitávelmente a gente ganha algumas cicatrizes com o passar dos anos, que sempre acabam por mudar a gente por dentro.

Mas importante mesmo é saber relembram os bons momentos, fazer festa das coisas simples da vida, ser feliz como puder ser, porque afinal passou tão rápido, que hoje em dia me preocupo apenas em viver mais e filosofar menos.

Parabéns a vc por esse momento literário, rico, cheio dos bons sentimento que prezo nas pessoas.

e parabéns ao Nel Mezzo do Caminho, blog do qual sou fã assídua.

Vida longa aos dois e muitas felicidades e flores pelo caminho.

um beijo da amiga de sempre

Cris

Vera disse...

Através do seu texto voltei ao meu tempo de infância, Gilberto. Que saudade! Lembrei de todas as artes que eu aprontei. rss

Fiquei sorrindo aqui por causa da dentadura. rss Muito engraçado! É exatamente o que você disse...rss

Se podemos ser felizes com coisas tão simples, porque complicamos, não é? Precisamos deixar, bem viva, essa criança dentro de nós!

Lindo texto!!

Beijos!

Vera disse...

Eu de novo...rss

Parabéns pelo aniversário do Nel Mezzo Del Cammim!! Que ele faça muitos aniversários, para que possamos comemorar!! E parabéns a você também, meu amigo!!

:: Mari :: disse...

Com todo louvor, seu texto é lindo!

A história da dentadura é hilária! Rsrsrs
Lendo lembrei de algumas coisas que se passaram na minha infância, eu de pés descalços correndo na rua, as brincadeiras eram bem mais inocentes que hoje, a liberdade que elas nos proporcionavam, tudo era mais simples e com certeza eu era mais feliz... ai que saudade de tudo isso!!

Parabén pelo aniversário do blog!

Tenha uma semana abençoada.

Bjos

Anônimo disse...

Tão lindinho Gilbertomeuzinho!
Bjs.

Anônimo disse...

kkkk!
Eu tinha pavorrrrrrrrrrrrrr da dentadura da minha biza...nossa, a primeira que vez, pensei que iria infartar ...aos 5 anos de idade!!!!
Parabéns pelos "3" anos do Blog...que venham mais 10, 15,20...ainda estarei aqui te seguindo, firme e forte...e quem sabe nós ja não estaremos usando dentadura???
Afff!!!!
bjosssssssss

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.