sábado, 15 de maio de 2010

PEQUENO TEXTO PARA OS DIAS DE LOUCURA


Escrever, para mim, ultimamente, deixou de ser um ato lúdico para ser um exercício de dor. Ainda percebo algum lirismo em minha prosa e meu verso, mas ele vem sangrando, ele se desgarra das feridas abertas e espalha-se por todo o texto. Escrever é dor, é dor... é dor... é dor...

Porque eu mesmo não sou eu. Sou um mutante, sou um diferente, sou um ausente de mim mesmo, eu me esqueci dentro do espaço inconsciente que fica entre a razão e a loucura. Minha sensibilidade se solidificou dentro de um coração empedernido em um peito cheio de ressentimentos, ela foi esquecida e sua poeira se junta em dois generosos dedos por sobre minha consciência. Nada me acalenta, nada me apascenta, nada me tranqüiliza, sou o ultimo brilho do estopim aceso, sou o barril de pólvora pronto para explodir, eu sou o brilho no olhar da fera, eu sou o ultimo suspiro de esperança, sou ninguém e nada ao mesmo tempo agora, sou a revolução estúpida e todas as revoltas tolas, sou o beijo que quis ser dado e ficou prisioneiro dentro de um desejo que não se concluiu. Meus maiores pecados não foram os cometidos, e sim aqueles que ficaram esquecidos dentro de uma vontade covarde. Eu me perdi, sou um quase qualquer coisa feito de nobres matérias primas de idiotices.

Vêem os sorrisos, eu não estou entre eles.
Vêem as lágrimas, também não estou entre elas.

Minha dor é diferente, é sozinha, é amargurada, uma agonia que se constrói dentro de minha própria inércia, da impossibilidade que me dou de sofrer de verdade, como todos fazem. Minhas emoções são forjadas pela minha estupidez e burrice. Até nisso me faço diferente, minha expiação é solitária, minha tristeza tem a robustez de uma clausura ao qual eu próprio me submeti, uma clausura que sufoca minha liberdade e meu desejo real de ser feliz... Isto, meu maior pecado é não tentar, é não cair pelo caminho, é não tentar ser feliz do jeito que realmente quero, é não sangrar de verdade no altar dessa busca...

Então, como posso escrever o amor e a felicidade.... Se a dor me invade, me flecha por todos os lados de meu corpo?

Não escrevo o amor... Eu sou a dor... o amor em mim é apenas um intruso, um passageiro errante, um andarilho, alguém que passa, me olha levemente com uma sugestão adocicada e cheia de possibilidades, e, depois, se vai... sem deixar nada... sem levar nada... Eu vivo dentro desse vazio!

Escrever para mim tem sido um delirante exercício de dor... De dor... De dor...

10 comentários:

G I L B E R T O disse...

Post Scriptun

Este texto já tem algum tempo e já o devia ter publicado, mas, sempre fico esperando um momento mais adequado que bata o texto com o sentimento - escrever é, para mim, antes de tudo, um espelho do meu coração!

Me sinto bem agora, a loucura passou e os dias díficeis estão momentaneamente dispersos de mim mesmo... O texto está aí, portanto existe, mas existe dentro de uma lógica eminentemente literária, pois o acredito belo, diferente, uma experimentação, e, para aqueles que, como eu, amam a leitura e suas diferentes amostragens, ele servirá para um prazer momentâneo.

Não busquem verdades nele... Elas já existiram, sim, mas ficaram no passado quando ele se desgarrou de uma plascenta desgraçada de sofrimento... Hoje é apenas loucura, uma doce loucura que quero compartilhar convosco!

Um beijo em Voces, minhas amigas (e amigos) que sempre estão comigo, apesar de tudo...

Chau!

Anônimo disse...

Quem me dera saber escrever um texto sobre os dias da minha loucura.
Bjs Gilbertomeuzinho.

SolBarreto disse...

Existe beleza em tudo na vida...mesmo em um texto carregado de dor, de loucura..
Voce pode ja ter superado essa dor e hoje considerar loucura...mas com certeza muitos que irão ler estão hoje nesse estado de dor, pois embora te pareça loucura essa dor é bem real!

Priscila Rôde disse...

Um belo texto. Senti um pouco aqui, essa dor. Saiu dai de dentro e veio parar cá dentro de mim. Mas olha, achei lindo.

Vera (Deficiente Ciente) disse...

Fico muito feliz de saber que esse texto, muito bem escrito e carregado de uma dor indescritível e sofrimento, tenha ficado no seu passado, Gilberto. Essa é uma notícia para ser comemorada, meu amigo! Que alegria!

Beijos e uma semana maravilhosa para você!

Cris França disse...

Que atire a primeira pedra quem nunca enlouqueceu de dor meu amigo.

Ah dores, existem tantas, de tão diferentes formas, tamanho, intensidade.

Ah dores, emeril afiado, lapidando a pedra bruta de que somos feitos, para nos tornarmos pessoas melhores.

parabéns por tão bela tradução da dor, se é que a dor pode ser bela.

beijos da amida de sempre

Anônimo disse...

quem dera ter um dom literario desses meu irmão! sei que posso ter você como meu irmão, pois tenho orgulho de ter alguém como você por perto, ficou muito bom seu texto! celio

:: Mari :: disse...

Olá,
Simplesmente amei seu blog, aproveitei e li alguns texto/poesias, parabéns você escreve divinamente bem!!
Tem uma sensibilidade na escrita muito boa...
Com certeza estarei aqui novamente pra degustar mais de tudo.

Bjos

Até breve,

Ângela disse...

Oi Gilberto!!!
Seu texto é tocante e que delícia ler um texto carregado de sentimentos e emoção como este seu.
Beijinhos
Ângela Guedes

Joana Francesa disse...

Você é um balsamo ao coração.... passei por aqui sempre..
revigora, grita o sufoco.... Você.
beijos meu querido.