Os homens cantaram louvores ao Senhor.
Os cânticos saíram desafinados, mas, para a fé, não importa a qualidade dos cantores e sim a paixão do cantar.
Um deles, olhos fechados, segurava a Bíblia Sagrada contra o peito, como se quisesse marcar com fogo sagrado o nome de Jesus no coração. Outro cantava de joelhos, mãos para o alto, espalmadas, olhos cravados no teto escuro o olhar transcendendo. Outros dois, abraçados, seguiam o compasso da música, emocionados. O quinto, o mais novo na fé e, para ele, tudo ainda tinha o doce cheiro de novidade, cantava acompanhado de um hinário puído que lhe ensinava as trilhas e as rimas da bela canção.
A música ganhou o ambiente e o barulho disperso e louco da grande quimera foi afugentado. Fez-se um silêncio solene e respeitoso onde o louvor se aninhou apascentando ouvidos e os corações dos brutos. Todos se acalmaram e, atentos, ouviram a canção que falava de promessas e boas novas.
Foi um instante e não foi maior que um instante, mas neste lampejo, todos eles tiveram uma sincronia perfeita e estreita com a fé, e, pela fé, chegaram ao Divino.
Por um instante que não foi mesmo maior que um instante, o lugar não era mais degradante, não havia mais tristezas, nem dor, nem sofrimento; o ódio aquietou-se num canto poeirento dos seus corações e, todos eles, elevaram uma prece ao céu, cada qual do seu jeito deformado, de sua maneira torta, com sua fé fragmentada e fraca, mas rezaram, agradecendo, pedindo, entregando a Deus num relâmpago de consciência e serenidade todo o pouco que tinham.
Tão de repente quanto começou, os cinco homens encerraram seu louvor e retornaram para suas atividades rotineiras, estavam mais leves e contentes. Em volta deles, o encanto que construíram partiu-se e tudo voltou ao corriqueiro – as patifarias escaparam dos guetos e dos corações, cigarros e baseados foram acesos, alguém alimentou ainda mais seu coração com ódio por meio de um pensamento rasteiro e profano.
A cadeia segura corpos e homens, mas não detém o pensamento sincero e a fé verdadeira. Ainda que tudo não durasse mais do que um miserável instante, no céu, aquele momento de redenção foi recolhido com júbilo pelos anjos...
5 comentários:
Oh, Gilbero que lindo texto!!
Olha, já virei sua fã viu?!?!!?
Peguei uma imagem e um texto daqui e postei no blog... espero não ter feito mal. Se não agradeço.
Bjos
Faço coro com a colega acima...ja virei fã.
Escreve muito bem...
Seu texto foi otimo, forte e com certeza coloca quem lea pensar na vida, na fé, no comportamento rotineiro que temos..
Existem outros tipos de prisoes...talvez, mais amargas e crueis que as aquelas que seguram corpos...mas a fé nesses instantes ultrapassam qualquer barreira...
Lindo mesmo seu texto!
PS - Recebi um email me informando do seu comentario no meu blog...mas ele nao aparece la o que aconteceu?
Oi Gilberto!!!
OOPS!!! Foi mal...
Acidentalmente apaguei o comentário que você deixou no meu blog.
Desculpa!!!!!!!!!!!!!
Beijinhos
Ângela Guedes
quem canta reza duas vezes.
bjs
ótimo texto,realmente esse tipo de instante mágico deveria ser permanente, e não literalmente um instante..a despeito das dificulades....
parabéns
cida oliveira
ps:se voce me permitir colocarei esse texto em meu blog,com a devida fonte de origem claro
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