quarta-feira, 19 de maio de 2010

O INSTANTE MÁGICO

Os homens cantaram louvores ao Senhor. 

Os cânticos saíram desafinados, mas, para a fé, não importa a qualidade dos cantores e sim a paixão do cantar.

Um deles, olhos fechados, segurava a Bíblia Sagrada contra o peito, como se quisesse marcar com fogo sagrado o nome de Jesus no coração. Outro cantava de joelhos, mãos para o alto, espalmadas, olhos cravados no teto escuro o olhar transcendendo. Outros dois, abraçados, seguiam o compasso da música, emocionados. O quinto, o mais novo na fé e, para ele, tudo ainda tinha o doce cheiro de novidade, cantava acompanhado de um hinário puído que lhe ensinava as trilhas e as rimas da bela canção. 

A música ganhou o ambiente e o barulho disperso e louco da grande quimera foi afugentado. Fez-se um silêncio solene e respeitoso onde o louvor se aninhou apascentando ouvidos e os corações dos brutos. Todos se acalmaram e, atentos, ouviram a canção que falava de promessas e boas novas. 

Foi um instante e não foi maior que um instante, mas neste lampejo, todos eles tiveram uma sincronia perfeita e estreita com a fé, e, pela fé, chegaram ao Divino. 

Por um instante que não foi mesmo maior que um instante, o lugar não era mais degradante, não havia mais tristezas, nem dor, nem sofrimento; o ódio aquietou-se num canto poeirento dos seus corações e, todos eles, elevaram uma prece ao céu, cada qual do seu jeito deformado, de sua maneira torta, com sua fé fragmentada e fraca, mas rezaram, agradecendo, pedindo, entregando a Deus num relâmpago de consciência e serenidade todo o pouco que tinham. 

Tão de repente quanto começou, os cinco homens encerraram seu louvor e retornaram para suas atividades rotineiras, estavam mais leves e contentes. Em volta deles, o encanto que construíram partiu-se e tudo voltou ao corriqueiro – as patifarias escaparam dos guetos e dos corações, cigarros e baseados foram acesos, alguém alimentou ainda mais seu coração com ódio por meio de um pensamento rasteiro e profano. 

A cadeia segura corpos e homens, mas não detém o pensamento sincero e a fé verdadeira. Ainda que tudo não durasse mais do que um miserável instante, no céu, aquele momento de redenção foi recolhido com júbilo pelos anjos...

5 comentários:

:: Mari :: disse...

Oh, Gilbero que lindo texto!!
Olha, já virei sua fã viu?!?!!?

Peguei uma imagem e um texto daqui e postei no blog... espero não ter feito mal. Se não agradeço.

Bjos

SolBarreto disse...

Faço coro com a colega acima...ja virei fã.
Escreve muito bem...
Seu texto foi otimo, forte e com certeza coloca quem lea pensar na vida, na fé, no comportamento rotineiro que temos..
Existem outros tipos de prisoes...talvez, mais amargas e crueis que as aquelas que seguram corpos...mas a fé nesses instantes ultrapassam qualquer barreira...
Lindo mesmo seu texto!
PS - Recebi um email me informando do seu comentario no meu blog...mas ele nao aparece la o que aconteceu?

Ângela disse...

Oi Gilberto!!!
OOPS!!! Foi mal...
Acidentalmente apaguei o comentário que você deixou no meu blog.
Desculpa!!!!!!!!!!!!!
Beijinhos
Ângela Guedes

Cris França disse...

quem canta reza duas vezes.

bjs

CIDA OLIVEIRA disse...

ótimo texto,realmente esse tipo de instante mágico deveria ser permanente, e não literalmente um instante..a despeito das dificulades....
parabéns
cida oliveira
ps:se voce me permitir colocarei esse texto em meu blog,com a devida fonte de origem claro