quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009


O servo anunciou ao rei: “Senhor, o santo Narottan nunca se dignou entrar no teu templo real. Ela canta louvores a Deus sob as árvores, em campo aberto. Ninguém mais vai adorar no templo. Todos se reúnem em torno dele, como abelhas ao redor de um lótus branco, e deixam vazio o jarro dourado para o mel”.

O rei ficou profundamente irritado. Foi até o campo onde Narottan rezava, sentado na relva, e lhe disse: “Pai, porque abandonas o templo com a cúpula de ouro, e ficas aí, sentado no chão, para anunciar o amor de Deus?”

Narottan respondeu: “É porque Deus não está em teu templo”.

O rei olhou com desagrado, e disse: “Não sabes que foram gastos vinte milhões em ouro para construir aquela obra de arte, e que depois o templo foi consagrado a Deus com ritos custos0s?”

“Sei disso” – respondeu Narottan.
“Sei também que ele foi construído naquele ano em que o fogo destruiu a casa de centenas de famílias do teu povo, e que elas em vão se prostraram à tua porta, pedindo ajuda. E Deus já dizia: ‘Pobre criatura que não pode oferecer abrigo a seus irmãos, e pretende construir a minha casa!’ Deus foi fazer companhia aos desabrigados, debaixo das árvores do campo... Essa pompa de ouro de que estás falando não tem dentro dela nada mais que o ardente vapor de teu orgulho”.

O rei se enfureceu e gritou: “Vai embora de meu Reino!”

O santo lhe respondeu tranquilamente: “Sim, expulsa-me para onde expulsaste o meu Deus”.



Rabindranat Tagore (1991, poema 34), do livro A Colheita, Edições Paulinas
Foto: Poeta indiano Rabindranath Tagore


Rabindranth Tagore é um poeta indiano nascido em 1861, Calcutá, e morto em 1941, Bengala. Foi músico, poeta, contista, teatrólogo e filósofo, foi Prêmio Nobel de Literatura em 1913. Sua obra e poesia remete a Deus e a natureza fazendo uma junção perfeita entre estas duas maravilhas. O amor, em todas as suas manifestações, também é bastante cantado em seu modo todo peculiar de escrever. Aprendi a gostar de Rabindranath a algum tempo atrás, quando por acidente, um livro seu chegou-me as mãos. De lá para cá, de quando em quando, volto a ler a sua obra e sempre que possível, dou um jeito de adquiri um livro de sua bibliografia.

Agora, acabei de ler “A COLHEITA”, livro lançado pelas Edições Paulinas, em 1991, na coleção Vida e Meditação. O livro é uma antologia de poemas escritos em diversas fases da vida do poeta indiano, uma coletânea com 86 obras primas poéticas e místicas do autor. São poemas que nos encantam não tão somente pela sua beleza textual, mas, sobretudo, eu acredito, pela sabedoria que eles possuem em sua essência. Rabindranath faz de sua poesia algo não tão somente para nos encantar em belas tardes nas varandas de nossas casas, e sim, um instrumento poderoso para enxertar de sabedoria e ensinamentos os nossos corações.


Vou pronunciar o teu nome quando estiver sozinho,sentado entre as sombras dos meus pensamentos silenciosos.
Vou pronunciá-lo sem palavras e sem motivo.
Sou como a criança que chama cem vezes por sua mãe,alegre de apenas poder falar "mãe".
(Rabindranat Tagore (1991, poema 82), do livro "A Colheita", Edições Paulinas")

Um comentário:

Regina disse...

Querido Gilberto,

Gostei do "estilo" deste poeta indiano de nome tão "extravagante"! Tentei procurar este livro nos sites de livrarias, mas não encontrei...

Creio que os exemplares que tens aí, devam ser bastante raros, não?!

Obrigada pela dica, belíssimo!!