segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

APRENDENDO A SONHAR...


Desde os seis anos eu já tinha uma mente imaginativa, não sei se motivada pela visão dos quadrinhos de super-heróis americanos, não sei se pelas miríades de brincadeiras que fazia nas empoeiradas ruas de Paraná d’Oeste, uma pequena cidade do Paraná com cara e jeito de pequena cidade. Só sei que já sonhava e de tanto sonhar acordado um dia caí um belo dum tombo e cortei feio o joelho, um rasgo de onde desprendia-se um jorro vermelho que me arrancou sonoros gritos de socorro – os sonhos não devem jamais ser vermelhos.


Mamãe chegou apavorada e, entre lágrimas nos olhos e outros gritos de socorro, levaram-me ao farmacêutico da cidade que queria me dar uns pontos no joelho. De primeira, não entendi essa de dar pontos em joelhos. Mas quando vi a agulha e a linha, soltei tão alaridos gritos que o farmacêutico, coitado, o Sr Afonso, desistiu da idéia rapidinho. O rasgo no joelho curou-se na marra, na base de curativos constantes e cuidados de mãe – entre todos os remédios, o cuidado de mãe é o mais próximo da panacéia.


Aos dezesseis anos, minha imaginação ganhou força, as aventuras eram mais exasperadas, mais bem formatadas, de tanto sonhar perdia o fôlego. Além disso, há que se reconhecer, motivado pelos hormônios que já fluíam em meu corpo adolescente, os sonhos ganharam alguns contornos concupiscentes, ainda que filtrassem todos através de uma consciência erigida sobre uma educação austera e pragmática. O berço é a gênese das melhores consciências.


Aos vinte e seis anos cometi a besteira de achar que havia encontrado o amor, e sepultei meus sonhos. Talvez tenha sido a única vez que deixei de sonhar e parti para a ação propriamente dita. Quebrei a cara. Sou melhor sonhador do que executor. Sempre soube disso. Os meus vinte e seis anos guardam lembranças que hoje merecem ser esquecidas. Porque entre sonhar o amor e encontrá-lo de forma aleijada, é preferível sonhá-lo. Meus sonhos com o amor sempre foram os melhores....


Hoje, meus sonhos rarearam, fico joeirando entre meus pensamentos sonhos pré-fabricados, e estes não valem. Se sorrio, ou se choro. Se corro, ou se ando. Se parto, ou se fico. Se escrevo, ou se leio. Não importa a estrada que tome, tento recuperar a fantástica capacidade de sonhar que tinha aos seis anos e que alguns, ao longo dessa vida tortuosa, me fizeram crer que era uma qualidade pouco desejável. Então, eu sonho, sonho com um garoto de seis anos, simplório na existência, simplório nos sonhos, e de felicidade sofisticada. Sonhar ainda é a única ponte que liga a realidade ao futuro cheio de novas possibilidades.


Queres ser feliz, sonhe.


Queres sonhar, queira ser feliz.


Parece ambíguo e complicado, mas é tudo muito simples. Por isso a maioria não acata esta verdade. Ela é simples demais, eles necessitam de fórmulas matemáticas, grifes e técnicos com PhD para dizer-lhes os caminhos a tomar. Os livros de auto-ajuda são os mais vendidos atualmente.


Eu prefiro sonhar... por isso, estou aprendendo novamente...a sonhar!


Ainda bate em meu peito um coração de sonhador!


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