sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O MAIOR CONQUISTADOR DO MUNDO


Não era um belo rapaz, nunca o foi, nunca o seria. Era de baixa estatura, orelhas de abano, grandes olhos, lábios finos, nariz avantajado. Contudo, era a simpatia em pessoa. Bastavam duas frases e já estava conquistando. Homens e mulheres sucumbiam-lhe sob efeito dominó. Dos homens roubava poder e prestígio para si próprio, sem que percebessem, praticando um salutar tráfico de influências para aumentar sua rede de contatos e assim, partir para as conquistas que realmente lhe interessavam: as mulheres! Ah! Estas caiam como moscas em sua teia de gentilezas e galanteios exagerados. Suas frases eram rebuscadas e possuíam sob a epiderme dos vocábulos, um lirismo imperceptível aos ouvidos masculinos. Para eles, tudo o que dizia era piegas, brega. Para elas, era diferente, tentador, romântico.
Era comum vê-lo ao lado de uma bela mulher, não raro com a mais bela mulher. Sua filosofia barata apregoava para os mais chegados “O segredo é não pilotar “teco-teco”, meu esquema é com os boeings!” E assim seguia, colecionando conquistas em profusão. Quanto mais bela e mais difícil a mulher, mais excitado ficava. A estratégia tinha alguma complexidade. O modo de andar, o jeito de olhar, a abordagem, as palavras escolhidas a dedo, os trejeitos, tudo estudado, tudo em seu devido lugar, um movimento servindo de catarse para outro. Não havia falhas, sua psicologia inapta era uma benção para si, uma maldição para a “vítima” escolhida.
E as mulheres o amavam, e ele amava as mulheres com todo o furor de um sentimento loquaz. Estar ao seu lado era conhecer o Éden com todas as suas maravilhas. Estava sempre armado com uma gentileza, uma generosidade ampla, um sorriso branco que lhe escapava aos lábios e fazia brilhar-lhe toda a face.
Foram varias suas aventuras! Suas conquistas foram inúmeras. Chegou a ser comparado a Don Juan, mas rejeitou o apelido dizendo que o amante espanhol só queria sexo, ele não, abraçava a mulher por inteiro. Era um anjo que veio para tocar a alma feminina, jactava-se.
Um dia qualquer de verão, passeando de pedalinho em um lago dourado, viu não muito longe de onde estava, uma mulher a pedalar seu barquinho, sozinha, indefesa. Examinou-a: seu modo de vestir, seu penteado, apurou as narinas sentiu-lhe o perfume – seus pelos eriçaram, seus olhos brilharam, estava pronta e aquecida a máquina conquistadora, partiu ao encontro da bela musa.
Tudo seguiu seu “script” natural. Bruxo como era tomou das águas do lago o seu frescor e emprestou-lhe à própria pele. Um raio de sol vespertino veio colorir seu sorriso. O vento alisou seu cabelo pixaim. Seus olhos alugaram o azul do céu. Sua voz parecia a voz de uma Sílfide cantando para a alvorada. Falou qualquer coisa grotesca e a moça sorriu-lhe agradecida pela atenção súbita. À frente de seus olhos surgia um fado galante que vinha lhe salvar das terríveis águas da solidão. Num instante estava dentro do pedalinho da musa conquistada e, noutro instante, mais breve ainda, estavam dentro de seu Fuscão Verde 69 cujo ronco parecia (para os ouvidos femininos) o rugir de uma Ferrari.
No outro dia, nosso herói conquistador acordava num quarto de motel barato, ao seu lado o corpo de uma bela mulher descansava, após uma vigorosa noite de amor. Sorriu satisfeito e feliz enquanto suas mãos ternas percorriam lentamente as belas e fêmeas costas morenas...

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