quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

ENQUANTO A CHUVA CAÍA...


Por um momento, eram novamente crianças. Brincavam na chuva, sorrindo, com a despreocupação daqueles que tem a vida feita. Não eram mais homens, com as responsabilidades e as convenções de homens. Por um momento, não tinham mais passado, isto, por um breve momento, porque não ter passado, para a maioria deles, era uma dádiva. Para eles, o passado é um aguilhão terrível que tortura as suas almas e o seu corpo. Em seus casos, o passado somente não é pior que os seus futuros.

Porque na verdade o passado não é feito de perguntas, estas estão no futuro. Nele estão muitas das respostas que buscamos do que somos hoje. Como a vida pode ser maravilhosa quando no nosso futuro, as respostas já estão razoavelmente garantidas pelo que fazemos hoje, pelo que fizemos ontem. Este é o grande sabor da vida, percebem? Ter as ferramentas e as condições para responder as questões que a vida nos coloca. E é lá, no passado, com todas as suas histórias, boas e más; com todos os seus rostos, bons e maus, que construímos as condições para nos colocarmos de frente com o futuro, sem temê-lo, pronto para enfrentá-lo.

Enquanto a chuva caía, os homens permitiram-se algumas picardias. Correram na chuva, gargalhando intensamente. Rolaram pelo chão, brincaram de pega, tiraram a camisa e as agruras de suas vidas. A infância é necessária. Ela é a resposta para muitos futuros.

Mas, para estes homens, a infância chegou tarde, desconectada com o tempo. Esta infância artificial, dissimulada, não tem poder. Eles estão velhos e suas respostas para a vida já estão encravadas em seus corações embrutecidos. Todavia, ainda que seja falsa, esta infância ganha importância. Eles sorriem, e não há nada espúrio por trás de seus sorrisos. Os adultos possuem este lamentável dom, somente riem do malicioso, do capcioso, ao contrário das crianças que riem das coisas simples e puras.

Por um momento, um breve momento, enquanto a chuva caía, e somente enquanto a chuva caía, eles foram as crianças que nunca foram um dia, e que jamais o serão... Não existem mais perguntas em seus futuros, há uma única resposta comum a todos eles: presos!!!



Imagem disponível em http://nikitas.blogs.sapo.pt/arquivo/chuva.JPG

Um comentário:

Regina disse...

Querido amigo... Saudades!

Encantada com a poesia de Maya Angelou!! Realmente igualmente linda ou talvez até melhor que receber flores! (mas também adoro flores!! rs...) A sabedoria, força, coragem e ânimo contidas nela, eram tudo que eu estava precisando sentir nesta fase em que me encontro...

Vou fazer deste poema, um mantra!! Levantar-me sempre que cair!! De cabeça erguida! Gostei muito mesmo, obrigada de coração, sua sensibilidade me fascina...



Li os posts que “perdi”... Seu trato com as palavras, a sutileza e delicadeza com que escreves, é realmente admirável! Gosto muito desse refinamento que tens com a escrita! É muito agradável sua leitura... Sabes transformar um simples cotidiano, ou até mesmo os fatos mais desagradáveis da vida, na mais linda poesia...

Como em “Aprendendo a sonhar..." Belo e sensível texto, cheio de nostalgias, gostosas lembranças da infância, talvez, algumas difíceis passagens, assim como ocorrem na vida de qualquer pessoa e, muitas vezes necessárias para que nos tornemos fortes, perseverantes e, ainda assim... sonhadores!!

Como também a chuva que nos dá a sensação de liberdade e, por alguns instantes nos remetem à infância pura e inocente...

Adoro trocar idéias contigo, é sempre muito bom interagir com pessoas inteligentes e sensíveis... aprendemos muito...

Grande beijo a este amigo tão talentoso e querido!

Tenha um excelente fim de semana!!