sexta-feira, 10 de outubro de 2008

O P E R Á R I O S

De meu canto observo os movimentos dos operários,
Estou oculto,
Estou esquecido,
Deles e de mim mesmo.
Um deles movimenta um portão enorme e pesado,
Num constante abrir e fechar.
Outro deles está à espreita, supervisionando tudo,
Como se fosse uma ave de rapina a observar a presa.
Um terceiro escreve em um formulário qualquer,
Registrando a entrada e saída de mercadorias.

Bizarras mercadorias...
De longe vêm os sons da fábrica.
O almoço sendo preparado na cozinha,
Os carrinhos transportando mantimentos,
Escovões e vassouras limpando o chão sujo,
Alguém que grita uma ordem qualquer...
...mas, no meio dos sons característicos de fábrica,
Escuto um que não devia estar ali...
Um choro contido,
Minha sensibilidade apura o som inaudível
De uma lágrima que molha o chão ressequido.
Do meu canto observo, novamente,
Os movimentos de todos os operários.
Os operários e sua fábrica...
A fábrica que nunca fecha!
A fábrica que enclausura sonhos!
A fábrica que aprisiona os que não podem ser soltos!
Estou na cadeia,
Sou também um operário dessa fábrica
Que tranca homens!!!!




Imagem: Quadro "Operários", Tarsila do Amaral, 1933

Um comentário:

Cris França disse...

Eu já disse gosto da sua visão do mundo? acho que já né? rs bjs