domingo, 26 de outubro de 2008

RECORDAÇÕES


De repente me peguei mexendo em velhas coisas, guardadas sob lacre em uma velha caixa, em uma velha gaveta de um velho móvel esquecido num quarto da casa. Materialidades velhas que abrigam sentimentos ainda frescos. Eram fotografias, antigas cartas, cartões postais, papéis diversos que um dia fizeram parte de meu cotidiano. É estranho como tentamos esconder estas coisas de nós mesmos, geralmente, guardando-as em locais fechados e evitando buscá-las, revive-las, como se elas fossem nos acusar de algum tremendo mal que cometemos.
As recordações foram me levando para dias que me foram felizes – outros nem tanto – mas cada um a sua maneira, foi importante, ajudando a construir o ser humano que sou hoje, com todos os seus erros, com todos os seus acertos.
Ri das roupas que usava, a década de 70 foi entre todas as décadas, a moda mais bizarra que se criou para o ser humano usar. Revi antigos colegas, belos rostos que a vida me furtou. Amei novamente antigos amores, aqueles que marcaram alguma coisa na gente, aqueles que passaram como a brisa de verão que sopra, sopra, mas sempre vai embora. Toquei com meu carinho mais sensível e minha saudade mais dolorida o rosto de minha mãe, de meu pai, de minha irmã, distantes, longe de meu cotidiano feroz e turbulento. Beijo-os como se beijasse a santos, como se tocasse o divino com as mãos, como se fosse a última coisa que me restasse fazer nesta vida.
Os fragmentos de memória foram passando por minhas mãos, minha consciência sendo bombardeada por antigas histórias, por causos que ficaram engavetados dentro da cabeça urgente do hoje selvagem e agressivo. Sinto saudades da minha vida de ontem. E a lágrima que derramo agora não me traz tristezas necessariamente. Ela traz uma gama variada de emoções, todas elas já sentidas, e que este lapso de memória, máquina do tempo que faz a ponte do hoje para o ontem, me faz reviver tudo novamente, gratuitamente, sem quaisquer possibilidades de cometer atos nervosos, sem a responsabilidade do momento sob tensão, sem preços a pagar, somente a emoção em sua plenitude absoluta sem o estresse do presente.
Que me venham todas as lembranças, boas e ruins, reminiscências, estilhaços de um passado já distante e a cada segundo mais longe de mim. Amo tudo em vocês, amo todos aqueles que ajudaram a construir a minha vida maravilhosa do jeito que ela é, cheia de sofrimentos, de fraquezas, de sorrisos, de esperanças, de quedas, de recomeços, de lutas, de esforços, de amizades, de amores, de buscas, de perdas, de tudo aquilo que herdamos deste legado que nos torna melhores quando temos a sabedoria necessária para aprender a crescer com estes ensinamentos desta faculdade única e inigualável – a vida.
Ao término desta busca, não encontro uma resposta se sou melhor hoje do que fui ontem. Penso que melhorei em muitos aspectos, e piorei em outros tantos. Os sorrisos não florescem mais com tanta felicidade no jardim de meu rosto, como brotavam de forma nativa na minha infância. As lágrimas de hoje, possuem um peso maior que as de ontem. As emoções de hoje não são tão puras quanto as de ontem, carregam em sua algibeira responsabilidades demoradas, e as emoções necessitam de caminhos sem tantas urgências. Só precisamos ser urgentes para sermos felizes, acredito que estou aprendendo isso, e meu passado me ajuda nesta busca de meu presente, focando o futuro com seta decidida. Talvez seja hoje mais inteligente e mais sábio, a ponto de saber que preciso melhorar muito ainda, crescer muito mais espiritualmente para atingir um patamar que só com muito trabalho podemos atingir, com contemplação, com erros e acertos, enfim.... Isto é bom, penso, e sinto-me feliz de alguma forma com esta descoberta.
É hora de fechar a minha caixa de lembranças, guardar na gaveta velhos amigos, velhas historias e abraçar Morpheu e seu abraço de inconsciência..... a vida continuará...

2 comentários:

linda disse...

Olha eu aqui de novo!Caramba de onde sai tanta inspiração para escrever todas essas coisas lindas, tocantes, interessantes e que nos faz visitar seu blog constantemente a procura de novos textos, poemas, sonetos e tudo mais? Adoro tudo isso, parabens meu querido...estou esperando ...
Qdo vai publicar o seu livro?quero ser a primeira a comprar o seu livro hein? De preferencia autografado...hehehehe, beijos...

Katia Sirlene Avelino Mendes disse...

Querido Meu! Também tenho minha caixa de recordações.Sinto não poder rever a sua contigo apesar de fazer parte dela.Pelo menos as lágrimas que caissem no que se referisse a mim eu as enxugaria todas. Engraçado, suas lágrimas provocam em mim lágrimas também. Uma estanha sensação de sufocamento...Desespero de estar tão distante fisicamente e tão presente quando simplesmente fecho meus olhos e te visualizo... alí, alguns centímetros para um abraço caloroso e apertado.