Era a mais famosa e querida das baratas. Famosa por suas ousadas aventuras e odisséias no mundo dos homens. Querida por todas as baratinhas por ser popular e simpático.
Morava atrás da pia do banheiro, numa fresta do azulejo. Dizia ser ali seu palacete, ou “baracete”, como parafraseava com alguns mais chegados amigos.
Não saia muito durante o dia, mas a noite, dava longos passeios para flertes e “altas farras” que muitas vezes duravam horas.
Nossa pequena estória de amor, diferente por sinal, começa aqui... numa dessas escapadelas em que nossa baratinha participava. Foi durante um longo passeio, fora dos domínios da residência humana em que morava, conheceu uma barata que era um esplendor. Possuía longas antenas; pernas bem torneadas, compridas e finas; asas brilhantes em uma cor escura e brilhante; e os olhos mais gentis que já virá.
Foi paixão à primeira vista, à primeira “antenada”, como preferem dizer as baratas.
Logo se enamoraram e começaram a se amar. Ficaram ambos sentados no canto de um tanque de lavar roupas, a olhar a lua e sentir a brisa da noite. Por vezes, trocavam demorados beijos de antenas. Invadiram despensas para lamber guloseimas e nas madrugadas, ficaram a conversar; ele, contando as suas epopéias no mundo humano; ela, suspirando longos suspiros de barata.
Pareciam duas baratas adolescentes quando começaram a fazer planos para o futuro. Iriam morar no apartamento dele (o baracete) que era espaçoso e um luxo só. Sonhavam com a dezena de baratinhas que iam ter e discutiam com quem as baratinhas pareceriam. Doces frescuras de namorados essas tolas e pequenas discussões.
Uma noite, enquanto trocavam juras de amor, uma luz se acendeu...
Alguém chegava mais tarde, vindo de algum lugar.
Pânico completo!!!
O terror se estabeleceu entre o pequeno casal de namorados. Correram no afã de escapar, a barata se separou de seu amante, também barata. Ele gritou qualquer coisa com as antenas, não foi ouvido. Sabia que tinha pouco tempo para salvar sua amada e com um corajoso salto, ganhou terreno livre (o que é mortal para as baratas), clara tentativa de chamar a atenção sobre si. E conseguiu. A primeira chinelada passou longe. A segunda mais perto. A terceira não o atingiu graças a um ziguezaguear esperto, nossa barata era muito ágil. Na quarta chinelada, percebeu que seu pretenso assassino já estava nervoso e quando isso ocorre, dizia convencido de seu saber às outras baratas que outrora o ouvia, as baratas escapam. E foi o que aconteceu. O humano, num ato desesperado, atirou o chinelo num golpe forte porém, passou longe. A intrépida barata já se guardava por trás de uma fresta na parede, cansado e preocupado com sua amada.
Só saiu de seu esconderijo após a luz se apagar e não perceber vibrações nas imediações.
Galgou lépido a distância que o separava do local onde esteve com sua amada. Ia atento buscando-a por todos os lados. Não demorou muito e encontrou-a, caída em decúbito dorsal, as pernas todas elas para cima em uma oração fúnebre, as antenas imóveis estendiam-se pelo chão. Morta. Para sempre, morta. Desesperou-se. Beijou-a com as antenas diversas vezes, tocou-a tentando ver algum movimento, porém, nada. Ficou ali enquanto pode. Logo, chegaram as formigas e ele teve que fugir. De longe viu o corpo da amada ser desmembrado e desaparecer, carregado macabramente.
Desse dia em diante, nunca mais foi o mesmo, contou outras baratas amigos seu. Isolou-se no seu apartamento em reclusão. Não saia nem para comer, lamber alguma coisa. Emagreceu muito e caiu em depressão. Contam seus vizinhos mais próximos que, nas madrugadas, ouvia-se seu choro antenado e seu lamento horas a fio e, durante os dias, delirava chamando pela amada barata.
Não recebia ninguém. A todos maltratava e ignorava. Chegou ao cúmulo de agredir um ancião barata que fora visitá-lo e levar-lhe algum alimento.
Um dia, uma baratinha invadiu seu apartamento e pediu-lhe que corresse. Uma nuvem de veneno se aproximava. Dedetização. Enquanto as baratas escapavam pelo ralo do banheiro, ele ficou lá; impassível, sentado, esperando.....
Algum tempo depois, encontraram-no, fora da casa, varrido como um qualquer, morto. Dizem que em sua face, repousava uma expressão diferente, como de prazer ?!?
Foi, com certeza, o maior herói entre as baratas....uma lenda!!!
Foto capturada http://um-buraco-na-sombra.netsigma.pt/fotos/52/Cockroach.jpg
Morava atrás da pia do banheiro, numa fresta do azulejo. Dizia ser ali seu palacete, ou “baracete”, como parafraseava com alguns mais chegados amigos.
Não saia muito durante o dia, mas a noite, dava longos passeios para flertes e “altas farras” que muitas vezes duravam horas.
Nossa pequena estória de amor, diferente por sinal, começa aqui... numa dessas escapadelas em que nossa baratinha participava. Foi durante um longo passeio, fora dos domínios da residência humana em que morava, conheceu uma barata que era um esplendor. Possuía longas antenas; pernas bem torneadas, compridas e finas; asas brilhantes em uma cor escura e brilhante; e os olhos mais gentis que já virá.
Foi paixão à primeira vista, à primeira “antenada”, como preferem dizer as baratas.
Logo se enamoraram e começaram a se amar. Ficaram ambos sentados no canto de um tanque de lavar roupas, a olhar a lua e sentir a brisa da noite. Por vezes, trocavam demorados beijos de antenas. Invadiram despensas para lamber guloseimas e nas madrugadas, ficaram a conversar; ele, contando as suas epopéias no mundo humano; ela, suspirando longos suspiros de barata.
Pareciam duas baratas adolescentes quando começaram a fazer planos para o futuro. Iriam morar no apartamento dele (o baracete) que era espaçoso e um luxo só. Sonhavam com a dezena de baratinhas que iam ter e discutiam com quem as baratinhas pareceriam. Doces frescuras de namorados essas tolas e pequenas discussões.
Uma noite, enquanto trocavam juras de amor, uma luz se acendeu...
Alguém chegava mais tarde, vindo de algum lugar.
Pânico completo!!!
O terror se estabeleceu entre o pequeno casal de namorados. Correram no afã de escapar, a barata se separou de seu amante, também barata. Ele gritou qualquer coisa com as antenas, não foi ouvido. Sabia que tinha pouco tempo para salvar sua amada e com um corajoso salto, ganhou terreno livre (o que é mortal para as baratas), clara tentativa de chamar a atenção sobre si. E conseguiu. A primeira chinelada passou longe. A segunda mais perto. A terceira não o atingiu graças a um ziguezaguear esperto, nossa barata era muito ágil. Na quarta chinelada, percebeu que seu pretenso assassino já estava nervoso e quando isso ocorre, dizia convencido de seu saber às outras baratas que outrora o ouvia, as baratas escapam. E foi o que aconteceu. O humano, num ato desesperado, atirou o chinelo num golpe forte porém, passou longe. A intrépida barata já se guardava por trás de uma fresta na parede, cansado e preocupado com sua amada.
Só saiu de seu esconderijo após a luz se apagar e não perceber vibrações nas imediações.
Galgou lépido a distância que o separava do local onde esteve com sua amada. Ia atento buscando-a por todos os lados. Não demorou muito e encontrou-a, caída em decúbito dorsal, as pernas todas elas para cima em uma oração fúnebre, as antenas imóveis estendiam-se pelo chão. Morta. Para sempre, morta. Desesperou-se. Beijou-a com as antenas diversas vezes, tocou-a tentando ver algum movimento, porém, nada. Ficou ali enquanto pode. Logo, chegaram as formigas e ele teve que fugir. De longe viu o corpo da amada ser desmembrado e desaparecer, carregado macabramente.
Desse dia em diante, nunca mais foi o mesmo, contou outras baratas amigos seu. Isolou-se no seu apartamento em reclusão. Não saia nem para comer, lamber alguma coisa. Emagreceu muito e caiu em depressão. Contam seus vizinhos mais próximos que, nas madrugadas, ouvia-se seu choro antenado e seu lamento horas a fio e, durante os dias, delirava chamando pela amada barata.
Não recebia ninguém. A todos maltratava e ignorava. Chegou ao cúmulo de agredir um ancião barata que fora visitá-lo e levar-lhe algum alimento.
Um dia, uma baratinha invadiu seu apartamento e pediu-lhe que corresse. Uma nuvem de veneno se aproximava. Dedetização. Enquanto as baratas escapavam pelo ralo do banheiro, ele ficou lá; impassível, sentado, esperando.....
Algum tempo depois, encontraram-no, fora da casa, varrido como um qualquer, morto. Dizem que em sua face, repousava uma expressão diferente, como de prazer ?!?
Foi, com certeza, o maior herói entre as baratas....uma lenda!!!
Foto capturada http://um-buraco-na-sombra.netsigma.pt/fotos/52/Cockroach.jpg
3 comentários:
Olá, nossa só vc. mesmo pra escrever uma história assim...
engraçada, triste ,romantica e muito tocante!Parabens!Realmente uma história de amor muito diferente!beijos...
Lindinha
Esta crônica já é bem antiga...
Foi escrita numa época onde o bom-humor era mais constante em mim...
Muito bom. Penso no dia em que as baratas dominarem o mundo e só sobrarem poucos humanos gigantescos para as atazanarem.
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