terça-feira, 20 de setembro de 2011

OS DOIS REPENTES


Ela entrou num repente, mas por ter sido a primeira vez que a via, este repente ficou enquadrado em sua memória e coração para todo o sempre. Para ele, para sempre, sua eternidade começava com este lampejo...

Daí para frente, todos os seus momentos, os súbitos e os planejados, os inesperados e os aguardados, todos eles foram dela e para ela.
Seu rosto lhe mostrou o que era a beleza e se gravou na retina de seus olhos.
Seu cheiro dançava um belo e excitante tango em suas narinas.
Sua voz parecia veludo em seus ouvidos.
E todas as suas palavras eram recepcionadas como se fossem mergulhadas na argamassa de poesia perfeita.

Eram mais que namorados, amados ou amantes, sabe-se lá que nome se dá para esses arranjos entre os apaixonados, eram os mais amigos, os mais leais, os mais comprometidos, os mais generosos, os mais meigos, os mais carinhosos, os mais divertidos, jamais existiu casal mais cúmplice que ambos entre homens e mulheres.

Às tardes, quando saiam do trabalho, caminhavam de mãos dadas pelas ruas, vendo o sol se deitar na grande cidade de pedra, desfilavam pelo asfalto e entre as vitrines poderosas seus sonhos e seus romances mais delicados – sim, tudo entre eles era delicado, feito de uma poesia cuja essência vinha dos tempos que o amor era conhecido pelo romantismo.

A primeira vez que pegou a mão dela, seus corações dispararam e seus olhares se cruzaram na escuridão do cinema agradecendo um pelo amor do outro.
A primeira vez que a beijou foi num novo repente, um momento súbito que escapou da generosidade do destino indiscreto que desejava ver o pequeno ato de amor entre os amantes. E a beijou pela primeira vez, com a intensidade de uma última e a presente ansiedade virgem da novidade. Para eles, naquele momento, faziam amor... faziam amor num beijo longo e desesperadamente aguardado...

... E, ela saiu num instante, se foi montada num momento imprevisto e ladrão, que roubou deles a sua eternidade e o amor mais perfeito que poderia ocorrer.

... E, também este lampejo gravou-se em sua memória e coração, para sempre. Definitivamente, para ele, a eternidade tinha os limites de dois repentes, o primeiro que a viu, e um último, que a levou embora... sua vida ficava espremida no meio, e era somente um resto.

Um comentário:

Severa Cabral(escritora) disse...

Olá meu mais novo amigo!
Sua crônica nos instiga a ler e reler...aplausos...
Bjs para aquecer tua tarde de finalzinho de inverno!