sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

À PRIMEIRA ENTRE AS AMANTES


É madrugada, chegastes insônia no meio de pensamentos que cavalgavam reminiscências...

Há uma lua branca e enorme no céu agora, brilhante e escorregadia. Percebo sua agonia para tentar manter-se firme no alto do firmamento, espremendo-se entre as estrelas mas não há jeito, algo a impulsiona para baixo em uma tração alheia a sua vontade.

Houve um tempo, no passado – este grande baú onde esquecemos as reminiscências – em que recebia tu, insônia, com a expectativa e o tesão de um amante. Chegavas sempre às madrugadas, quando outras luas atalaias nos vigiavam do céu. Nestas horas, tu insônia, vinhas vestidas em rendas sem quaisquer outras peças por baixo de teus vestidos transparentes; trazias bocas, olhares e cheiros sensuais que instigavam minha essência masculina. Eu te recebia com um copo de vinho nas mãos, nu em corpo e alma, e um bocado de poesia nos lábios e no coração. E, enquanto a lua seguia sua trajetória, ficávamos assim insônia, fazendo amor fazendo poesia. Entre todas as minhas amantes, confesso-te, eras a que mais amava, mais aguardava, pois em teu corpo esguio e frêmito de desejos escrevia as mais belas poesias com a minha sensibilidade exacerbada pelos encantos todos que trazias.

Hoje, as luas são tão belas como as de outrora. E, em algumas madrugadas tu ainda vens encontrar-me, minha eterna amante. Mas algo mudou insônia, talvez em mim, talvez em você, como saber? Não te aguardo mais com aquela ansiedade furiosamente virgem. Habitam em meus desejos na madrugada o profano, meus pensamentos perderam a tênue película de virtude que possuíam, tornaram-se pagãos, todos eles. E, tu chegas, já toda nua, toda entregue, esquecida de sensualidades, entretidas com gestos e clichês pervertidos. Preferes, insônia, o fácil e o urgente, desprezando os melhores prazeres que sempre estão nos frascos da paciência e da persistência. Preferes a energia vulcânica dos finalmentes, esquecestes do poder sinérgico dos entretantos. Mudamos, ambos, insônia, fato. E com nossas mudanças, mudou-se a nossa forma de amar. A grande verdade é que não fazemos mais amor, as poesias fugiram de nós, desesperadas e tristes, para se exilarem num recanto qualquer desse planeta. Estamos sozinhos...

Mas é madrugada e outra bela lua vem brilhar no céu. Estamos ambos, eu e tu insônia, sentados lado a lado, iluminados pelo luar, o olhar nostálgico buscando outras luas e outras noites e suas reminiscências amorosas perdidas dentro do grande baú.

Oh, triste verdade, meu amor! Nossos corpos andam sedentos e áridos de poesia, não faremos amor nesta noite...

Um comentário:

Regina disse...

Admirável e incrível talento para expor em palavras tão belas tudo o que se vai na alma...

Quisera eu ter este dom!

Dádiva de Deus, só pode ser!...

Grande beijo, meu doce amigo!!