sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

OS SONHOS VÊM COM O CREPÚSCULO

Ele nunca soube de verdade, de onde ela vinha.
Chegava sempre aos finais das tardes, entrava algo circunspecta, tirava o sobretudo, as roupas elegantes e, sem qualquer palavra apresentava-se nua.

Abria os braços então, sorria, deitava-se na cama, fazendo deste ato um convite, e fazia amor com ele, urgente primeiro, sempre, como se precisasse matar a fome e saciar-se; manso e delicado depois, sempre, como se amar para ela fosse igual ouvir uma bela sinfonia.

Ele preparava alguma coisa depois, um pequeno jantar que ela devorava com satisfação. Eram refeições silenciosas, com pouca conversa, para não dizer nenhuma, ela não falava muito e ele respeitava isso. Ao terminar, ele depositava a louça na cozinha, colocava Sinatra e outros bichos maravilhosos no som e dançavam um pouco na sala, bebericando goles de um bom vinho em uma bela taça de cristal.

Noutro instante, que surgia do desejo da paixão, amavam-se novamente sobre um grosso carpete no chão da sala, um amor feito de muitos entretantos e um certeiro finalmente. Ela gemia aos seus ouvidos seu gozo e seu testemunho de amor, e ele lhe entregava com afeto e caricias a prova maior de sua devoção por ela.

Somente então conversavam, ela se permitia, ele a escutava e retribuía. Falavam sobre filmes, livros, viagens, músicas, quadros e seus grandes mestres, comida, predileções pessoais e comuns aos dois, riam de algumas tolices, cantavam e dançavam juntos e, simplesmente, ficavam abraçados e deitados tentando o impossível, segurar o tempo que corria lá fora, batendo na porta deles com urgência, chamando-os para a realidade que ambos queriam renegar.

E, quando a noite ainda se exibia exuberante em sua infância, ela se levantava, vestia-se, dava-lhe um caloroso beijo de adeus e partia, sem promessas, sem compromissos, apenas a certeza de que amava e era amada.

Ele sofria... Queria-a intimamente, todavia, calava-se, sabia que, por qualquer motivo, somente assim ela poderia entregar-se para ele: totalmente, às vezes; e, nunca, para todo o sempre.

Fechava a porta, sentava-se no sofá e a lágrima da despedida misturava-se com um sorriso que refletia uma certeza que nascia de seu coração: Ela voltaria!!!

10 comentários:

Maria Izabel Viegas disse...

Amigo querido,
Vim para te desjat toda a Felicidade que existir no Cosmos Sagrdao.
Que teus dias sejam doces, que tua alma seja sempre realimentada pelo amor que carregas aí , neste coração, por todos nós... és um ser generoso. que nos encanta com tua amizade.
E , menino- grande poeta, como és inteligente!!!
Um FELIZ 2010!
Que Deus te abençoe!
Beijos nalma!

Anônimo disse...

Oi amigomeuzinho amado,
vim te ver, ler seu lindo texto e deixar um monte de bjs.

Mahria disse...

Nossa que conto lindo. É conto é, ficção? Pareceu tão real, de tão lindo, terno e cheio de paixão.

Beijos
Mah

Manuela Freitas disse...

Olá Gil,
Que maravilhoso este teu conto, até parece que estava a visualizar toda a cena. Muito romântico, muito sensual...
Para ti meu querido,
muitos beijinhos.
Manuela

Valéria lima disse...

Amei o conto...ela é casada tenho certeza, mas voltará!

BeijooO

Vera (Deficiente Ciente) disse...

Maravilhoso, Gilberto!! Quanta sensualidade!!

Abraços
Vera

Regina disse...

Querido Gilberto,

Começaste bem o ano!

E que sua poesia e maestria nunca se percam!

Beijos!

Cris França disse...

Niguem desenha em letras um romance como você mon cher...lindo! bjs

Maria das Graças disse...

Oi Gilbrto,obrigada pelo amável recadinho em meu blog.

Essa crônica retrata de forma perfeita, com palavras um casal apaixonado. Quanta sensualidade e realismo.Você sempre se superando na arte de lidar com as palavras.

Espero que tenha existido de fato esse encontro de apaixonados.

Um grande abraço.

Glorinha L de Lion disse...

Olha Gilberto, sei que sempre ao chegar aqui, me espera uma surpresa, uma lindeza, uma sutileza...vc me espanta...tens alma de mulher, sem querer te ofender, caro amigo...quero dizer, que tens sentimentos que não são comuns aos homens, pois tanta sensibilidade é difícil de encontrar nos "machos"...
A cada vez que entro aqui, no teu espaço, sei que irás me surpreender, me embebedar de beleza e sentimento...
Ter esse privilégio, te conhecer, foi realmente uma dádiva.
Beijos.