segunda-feira, 16 de junho de 2008

OS PEQUENOS PRAZERES DO DIA


Pegou a cuia de chimarrão nas mãos e correu os olhos pelo céu azul infinito, sugou o líquido quente, um gole escorreu garganta abaixo, uma lágrima escapou face abaixo. Porque a brisa gelada lhe abraçou o corpo quente de roupa pesada, quente de chimarrão, quente da amizade dos amigos que ao seu redor espantavam-se com a lágrima, com o seu olhar perdido, com o sentimento que nascia no público quebrando os protocolos de que as emoções devem ser claustras.

Tolices! As emoções têm de ser livres, livres como um gole quente de chimarrão, livres como a gargalhada da conversa fiada de amigos, livres como o pássaro que voa pelo céu azul infinito.


Sentiu-se feliz naquele momento, por estar em pé, por poder ver o céu azul, por poder sentir o sabor da erva, por olhar ao seu redor e ver os amigos que lhe amavam, por sentir no peito um coração apaixonado, por saber que a noite faria amor com a mulher que ama e que lhe ama.
Esqueceu a grande explosão da sua conta corrente, os cheques voadores que caiam como kamikazes provocando avarias terríveis na pequena nau de suas finanças. Esqueceu das intrigas, das corrupções do governo, das guerras do mundo, esqueceu até mesmo da violência. Não se entreteu com os valores que pregam como mantras que devemos ser ricos para sermos felizes, que o poder é que traz felicidade, e que somos todos coitados se não temos status.


Tomou mais um gole de chimarrão, e viu a amada chegar num velho carro. Abraçou cada um dos amigos, enxugou a lágrima e foi até ela. Entrou no veículo e olhou para o sol que começava a se espreguiçar no céu azul, foi acordado por uma explosão do motor que rugia pelo escapamento do automóvel, foi acordado pela mão da amada que tocava a sua, pelo seu olhar que mergulhou no oceano dos seus, foi acordado pelos ecos do “Eu te amo!” dela ribombando dentro do seu coração... Derramou mais uma lágrima de amor e a engoliu, sentiu um forte gosto de chimarrão na boca.

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