Há noites que a quimera simplesmente dorme...
As patifarias ficam por um instante esquecidas...
Tudo isso é tão breve que nem parece existir.
A cadeia fica calma, serena e tranquila como se
fosse um lago nas montanhas.
O agente sabe que isso não é verdade, instinto
dele.
Não existe lagos plácidos e tranquilos na cadeia.
Cadeia é rio caudaloso, cascata, corredeira,
enchente.
O monstro pode até dormir, se esquecer dentro de
um abraço em Morfeu[1],
mas a quimera sempre acorda...
... e, quando se levanta mostrando seus dedos e
garras afiadas, o agente, e somente ele, é o Belerofonte[2]
que irá domesticar a quimera.
Quanto maior o monstro, maior o herói.
Essa é a equação;
Grandes lutas, pondera, trazem grandes vitórias.
Naquela noite, entretanto, a quimera dormia...
Na sala de monitoramento, o agente sentia-se um
deus pagão dotado de dois atributos – pelas câmeras, tudo via; pelas câmeras,
estava em toda parte.
Buscava as patifarias de forma urgente.
Passava de janela em janela.
Caminhava por cima dos telhados.
O olho tocava em portas.
Cada canto do pátio era mexido, remexido.
Busca incansável.
Nada... a quimera simplesmente dormia...
As coisas são mesmo assim, refletiu resignado: “Quando
o monstro dorme, a corrupção dorme junto com ela..”
Essa é a equação...
... e voltou seus olhos atentos para o
monitoramento.
[1] Deus
grego do sono.
[2]
Belerofonte, herói da mitologia grego que foi enviado para matar o monstro
quimera, que possuía cabeça de leão e corpo de cabra e em outra extremidade,
uma cabeça de dragão que vomitava fogo.
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