Chegou cedo, como sempre.
Ao abrir a porta, o ar mofo da inatividade veio lhe cumprimentar as narinas. Ligou as muitas luzes e expulsou a escuridão. Sobre o altar, acendeu um par de velas, persignou-se e ajoelhado começou a ditar meia dúzia de orações ao padroeiro. Terminado o momento de fé pegou um velho pano que estava a um canto e começou a tirar a poeira. Fazia isso com alegria, porém, algo resignado ou cansado dos muitos anos de dedicação solitária e ininterrupta.
Abriu enfim a igreja. As grandes e largas portas rangeram ao se esfregarem no piso duro.
Já no altar, puxou do bolso os velhos óculos e começou a folhear a Bíblia. Escolheu uma passagem, a sua favorita, olhou o relógio, os bancos.... muito tarde, vazio novamente.
Triste, entrou na sacristia e pegou um desgastado livro de cânticos amarelado pelo tempo.
Voltou ao salão principal, nos bancos da frente, três devotas anciãs, antigas companheiras de rezas e penitências faziam-se presentes, como sempre. E como sempre.... as únicas. Olhou-as brevemente, cumprimentou-as e deu inicio ao culto tão pobre em espectadores.
Seguiram-se então os cânticos entremeados de Credos e Terços. Feitos os louvores e algumas orações, pediu as companheiras que abrissem suas Bíblias numa passagem previamente escolhida. Leu-a em voz alta e depois discorreu sobre o tema proposto pela Leitura. As devotas o ouviam atentamente, óculos nas faces, rosários nas mãos.
Terminado a explicação do Evangelho, fecha sua Bíblia sobre o Altar, pega seu velho rosário e sentando-se ao lado das companheiras inicia um novo terço. Segue-se mais meia hora de Aves Marias e Pais-nossos.... Rezam como se o fizessem pela última vez. Para eles, sabem eles, o tempo é escasso, curto. A vida é urgente. Deve-se sempre estar em paz.... consigo, com o Criador....
Depois de mais alguns louvores, dão por encerrado o culto dominical noturno. Despedem-se e partem. Ele continua por ali, mais algum tempo. Cuida de alguns papéis, apaga todas as luzes, faz uma última oração e satisfeito consigo próprio segue o seu caminho para casa. Nunca chega. Um enfarto mortal o estende pelo caminho.
No mesmo instante, dentro da igreja, uma brisa repentina abre a Bíblia sobre o Altar e a faz folhear-se parando em uma passagem específica, a mais lida naquela pequena igreja.
Encontram-no horas depois... Os olhos pregados no céu de estrelas, os braços abertos em cruz, nos lábios um sorriso feliz.... descansava em paz!!!
Ao abrir a porta, o ar mofo da inatividade veio lhe cumprimentar as narinas. Ligou as muitas luzes e expulsou a escuridão. Sobre o altar, acendeu um par de velas, persignou-se e ajoelhado começou a ditar meia dúzia de orações ao padroeiro. Terminado o momento de fé pegou um velho pano que estava a um canto e começou a tirar a poeira. Fazia isso com alegria, porém, algo resignado ou cansado dos muitos anos de dedicação solitária e ininterrupta.
Abriu enfim a igreja. As grandes e largas portas rangeram ao se esfregarem no piso duro.
Já no altar, puxou do bolso os velhos óculos e começou a folhear a Bíblia. Escolheu uma passagem, a sua favorita, olhou o relógio, os bancos.... muito tarde, vazio novamente.
Triste, entrou na sacristia e pegou um desgastado livro de cânticos amarelado pelo tempo.
Voltou ao salão principal, nos bancos da frente, três devotas anciãs, antigas companheiras de rezas e penitências faziam-se presentes, como sempre. E como sempre.... as únicas. Olhou-as brevemente, cumprimentou-as e deu inicio ao culto tão pobre em espectadores.
Seguiram-se então os cânticos entremeados de Credos e Terços. Feitos os louvores e algumas orações, pediu as companheiras que abrissem suas Bíblias numa passagem previamente escolhida. Leu-a em voz alta e depois discorreu sobre o tema proposto pela Leitura. As devotas o ouviam atentamente, óculos nas faces, rosários nas mãos.
Terminado a explicação do Evangelho, fecha sua Bíblia sobre o Altar, pega seu velho rosário e sentando-se ao lado das companheiras inicia um novo terço. Segue-se mais meia hora de Aves Marias e Pais-nossos.... Rezam como se o fizessem pela última vez. Para eles, sabem eles, o tempo é escasso, curto. A vida é urgente. Deve-se sempre estar em paz.... consigo, com o Criador....
Depois de mais alguns louvores, dão por encerrado o culto dominical noturno. Despedem-se e partem. Ele continua por ali, mais algum tempo. Cuida de alguns papéis, apaga todas as luzes, faz uma última oração e satisfeito consigo próprio segue o seu caminho para casa. Nunca chega. Um enfarto mortal o estende pelo caminho.
No mesmo instante, dentro da igreja, uma brisa repentina abre a Bíblia sobre o Altar e a faz folhear-se parando em uma passagem específica, a mais lida naquela pequena igreja.
Encontram-no horas depois... Os olhos pregados no céu de estrelas, os braços abertos em cruz, nos lábios um sorriso feliz.... descansava em paz!!!
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