quinta-feira, 22 de maio de 2008

Sob o quadrado sol de outubro

Ele estava no catre quando foi chamado... Levantou-se atento, algo assustado, a cadeia enclausura primeiro a pessoa, depois de algum tempo, as perspectivas.
Foi comunicado que a liberdade havia chegado, batendo suas asas brancas e o aguardava... A lágrima, como um oásis, desgarrou-se oleosa de algum lugar do deserto de seu peito. Olhou perdido para algum ponto qualquer, correu para a janela de grades e olhou para o sol quadrado que brilhava intensamente. Talvez quisesse esconder seu choro, talvez quisesse simplesmente arrumar uma forma de ficar sozinho um segundo numa cela lotada, pensar no futuro que lhe renascia... Assustou-se com isso, não sabia o que iria fazer amanhã?
Quase como uma prece, rogou que não acreditava que sairia daquele lugar, a lágrima testemunhava essa crença. A porta se abriu e ele saiu com suas poucas coisas, uma sacola cheia de roupas, um colchão velho e surrado, uma caneca e uma colher de plástico, era esta toda a fortuna que amealhou na cadeia.
Lembrei-me do dia em que chegou.
Desesperado, tentou suicídio. Nunca soube se pelo assassinato da pessoa querida(?!), não sei se pela sua própria prisão. Existem alguns questionamentos que ninguém consegue responder... Este era um daqueles mistérios que se esconderão no grande arquivo do Criador e somente serão postos para fora no grande dia do Juízo. Qual era a verdade daquele jovem? Homicídio ou acidente?
Ocorre que a justiça considerou tudo um lamentável acidente e, se culpado ou não, a liberdade lhe sorriu. Inocência é algo bastante relativo na cadeia, assim como todas as culpas.
Somente sei que fora da cela, olhou fixamente para o sol e sorriu para a enorme estrela, vi que sentia vontade de gritar, que sua face igualava em brilho o resplandecer do grande astro, conteve-se, isso a cadeia ensina com maestria, a conter-se, a reprimir-se, a prender os seus sentimentos dentro de uma masmorra que se forma dentro dos corações de todos os homens que habitam este lugar.
Livre das grades, o sol apresentou-se de novo com sua face bonachona. Ele olhou uma última vez para todas as celas, cumprimentou todos os que ficavam sob o quadrado sol de outubro e a cadeia tremeu pelo incessante bater dos internos nas portas de aço... Comemoravam a passagem da liberdade, a cadeia, esta velha megera, delirava um gozo involuntário.
Quando o pai do jovem chegou para apanhá-lo, a lua já estava brilhante no céu, redonda, refletindo o brilho do sol, quadrado para uns, redondo novamente para ele...

Nenhum comentário: