O agente penitenciário
olhou-o desconfiado, seguro no final do banho de sol é coisa que não se faz,
“chapa[3]” o
carcereiro.
O preso insistiu,
precisava sair do raio.
Ainda que contrariado, o
agente tinha de dar uma decisão ali, naquele instante, sem delongas, assim,
preferiu não pagar para ver e tirou o interno para encaminhá-lo para a
solitária.
O pedido de seguro é uma
instituição “quase” sagrada dentro da cadeia. É um direito do preso. É evocado
para a proteção da vida e a integridade física do condenado.
O normal é que, assim
que se abrem as celas para o banho de sol, todo aquele que se sinta ameaçado
saia correndo para a área de segurança buscando a proteção dos agentes. Isso,
quando não peça antes mesmo da abertura das celas e seja retirado quando todos
ainda estejam presos.
O pedido de seguro é
humilhante para o preso, e todos sabem disso.
Ao se colocar na
balança, a humilhação e a ameaça real, a escolha fica fácil. Para a maioria
absoluta dos presos, é melhor ser um covarde vivo do que um valente morto.
Este que saía no final
do banho de sol “zuava[4]” a
segurança. Ameaçado não convive com ameaçadores, do mesmo jeito que a presa não
come no mesmo prato do predador.
Quando ele ficou sozinho
na cela de espera, o agente encostou lá, cara de bravo, queria saber qual era a
do “ladrão[5]”.
O preso não se fez de
rogado e antes mesmo de qualquer pergunta, entregou o serviço. Puta velha
sempre sabe em que cama deve se deitar.
A questão era que a mãe
do condenado havia morrido no dia anterior e ele, bandido numa cela de
bandidos, não podia ficar numa “boa” usando o palavreado do ladrão.
“Eu quero curtir o luto,
senhor!”
O agente entendeu tudo e
solidarizou-se. Bandido não chora.
Arrumou uma cela onde o
preso iria ficar sozinho (quase um milagre em cadeia superlotada) e o colocou
lá dentro. Trancou a porta e já se afastava quando ouviu um gemido, um lamento
agudo que se desgarrava da alma: Mãezinha! Mãezinha!
Bandidos também
choram...
[2]
“Pedir seguro” é quando o preso que se encontra sob ameaça de morte ou a sua
integridade física esá ameaçada, dentro de sua cela ou dentro do pavilhão, pede
para sair da galeria para o agente penitenciário. É uma forma real e legal de
proteção a vida do preso.
[3]
Irrita, deixa nervoso.
[4]
Debochava; deixa nervoso.
[5]
Forma pelo qual os próprios presos se tratam. Não é um considerado um ato
ofensivo dentro da penitenciária. Todo o preso é tratado como ladrão, ainda que
seu artigo no código penal seja outro qualquer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário