PAPO FITTNESS
Aguardávamos com deliciosa ansiedade e, quando chegaram,
nossos beijos e abraços foram se encontrar com eles – amigos e carinhos são uma
combinação perfeita.
Seguiu-se o script
natural para essas ocasiões de encontros fraternos algum tempo adiados. As
vitórias foram comemoradas com sorrisos e Glórias a Deus; o que estava em “stand by” na jornada cotidiana foi agraciado com
solidária esperanças e Deus proverá; o que não deu certo não encontrou ecos em
lamentos, e sim, a vontade de Deus é sempre maior – amigos e entusiasmo também
são uma ótima combinação.
Ocorre que em nossa casa amigos e comensais são
sempre a mesma coisa, e o papo que se estabeleceu na sala escorregou para a
cozinha.
Todos à mesa, devidamente instalados, talheres à
postos frente a um refrigerante gelado, descobrimos que a oferta do dia seria
uma pizza – rescaldo da promoção da igreja.
Em pouco tempo de forno, o cheiro da iguaria “italiana”
já acariciava os olfatos de toda a casa, para todos prenúncio de guloseimas,
para mim deliciosa tentação.
Logo, e muito logo, cada prato abocanhou
generosa fatia e no meu repousava triunfante um triângulo calórico de muçarela
e calabresa.
Olhei para ele (o pedaço de pizza) e ele olhou
para mim de forma zombeteira. À minha frente, os amigos comiam sem culpas ou
atentados à consciência, felizes aqueles que não se preocupam com calorias. Não
era o meu caso, confesso.
Ao meu lado, minha esposa atirava-me um daqueles
seus olhares sabichões, que sempre parece dizer: “Eu sei o que se passa com você!” Junto, acompanhava um sorrisinho
que era metade escárnio, a outra banda era compaixão. Oh, minha bela Eva,
tentas teu Adão com pizza?
Comecei comer minha porção movido por variada
gama de contradições e sentimentos: desejo e repulsa, paixão e loucura,
obrigações e desatinos, como evocar o lema maior de todos os discípulos fittness “mens sana in corpore sano” diante de um suculento pedaço de pizza? Eis a
questão que se agigantava.
Os amigos já atacavam o segundo pedaço e eu
cortava meus bocados com a culpa de um homicida confesso – e, quando acabei,
após cometer o sacrilégio de tomar quatro goles de refrigerante restavam em mim
algumas certezas: que pizza é a maçã do Adão moderno; que calorias e
consciência são como água e azeite; e, o day
after, para mim, seria de dor e sofrimento na academia.
De todas as conclusões, a última foi redentora e
me deixou feliz, tão feliz que aceitei dividir com minha Eva mais a metade de um
pedaço sem o refrigerante, é claro. Assim como o Adão original, o similar
também caia.
Um comentário:
Adorei te ler e ver a comparação da pizza com a maçã pecadora,rs Legal! Fazia tempo! abraço,chica
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