A cadeia produz uma
espécie de preso que é conhecido como chato.
São presos que por sua
própria natureza já possuem características cansativas no convívio social,
depois que foram submetidos a anos e anos de drogas de tudo quanto é jeito e
muita cachaça, zerou todo o bom senso. Se ele era chato, tornou-se muito, mas
muito chato. Chato elevado a enésima potência.
Junta tudo isso com a
abstinência e está concebido um quadro infernal.
O sujeito não consegue
conviver bem com os outros presos, imagina com os agentes penitenciários.
Então, fica pulando de
cela em cela; pavilhão em pavilhão, tentando encontrar alguém que o entenda ou
que, simplesmente, tenha paciência com ele.
A paciência nunca entrou
na cadeia.
Ela fica sempre lá na porta,
aguardando as pessoas que se arriscam nesse universo.
Quando elas voltam, as
pessoas, a paciência toma o seu lugar no assento do carro e segue fielmente as
pessoas por todo o lugar que elas forem – nunca para dentro de cadeias.
A cadeia tem sua própria
maneira de resolver as coisas, paciência não é o caminho.
O sujeito dessa história
em seu tempo foi o homem mais chato do mundo.
Incomodava presos,
polícia e os agentes penitenciários.
Ninguém o agüentava.
Quando estava em estado
de abstinência de droga então, a coisa piorava bastante e o que era difícil
ganhava contornos de insuportável.
Incomodou tanto, mas
tanto que um dia, a grande cadeia não tinha mais lugar para ele.
Virará seguro em toda a
parte, em toda a parte queriam o couro dele e a segurança penitenciária não
tinha mais onde o colocar.
Cavará um poço tão
profundo que foi necessário transferir ele para a capital.
Lá chegando, começou
tudo do zero.
No seu caso, em vez de
ir à frente, foi para trás.
Foi perdendo pontos,
convívios, amizades, estabelecendo inimigos e desconhecido de afetos até que um
dia, fecharam-se todas as portas para ele e uma nova transferência, desta vez
para a maior cadeia da capital.
Lá já chegou indo para a
solitária.
Antes dele chegou sua
fama.
Um dia, de madrugada, uns
presos saíram de sua cela e foram até a dele e o mataram de forma muito
covarde.
Não teve gritaria.
Não teve ajuda.
Não teve nada.
A morte o visitou e o
abraçou levando-o calado para o seu aprisco.
Lá viveria quieto e não
incomodaria.
A morte também não tem
paciência, ela não espera ninguém.
De verdade mesmo,
ninguém se incomodou com ele.
Era um preso, era muito
chato e tinha tantos inimigos...
Mas, na cadeia de origem
dele, quando todos souberam tiveram um espanto... e isso passou num segundo.
Entre todos, alguém
sofreu em silêncio a tristeza da perda desta vida incompreendida.
Era o mais chato entre
todos os que pisaram naquela cadeia, mas a vida parece que não foi justa com
ele, assim pensava este nosso amigo oculto.
Seus pensamentos foram
interrompidos, um enorme bater de portas nas solitárias, era o novo candidato a
homem mais chato do mundo realizando seu trabalho.
Este é concorrente
forte, pensou enquanto se levantava e adentrava garganta adentro do enorme
dragão.
A vida (e a morte)
continuava...
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