...rei posto.
Em nenhum lugar
como na cadeia essa expressão popular ganha força como nesse ambiente fechado
na busca pelo poder constante – na cadeia, esse ditado ganha ares de novidade
diária, ali sempre há um rei tombando e, no segundo seguinte, outro se ergue
para tomar o seu lugar.
A cadeia não
derrama lágrimas pelo que vai embora, a tristeza é elemento estranho nesses
casos; cadeia não segue e nem conhece funerais de reis, e sim, celebra o
surgimento do novo monarca que se levanta sobre os escombros da queda do antigo
imperador.
Tudo é muito
simples e facilmente administrado pelo lugar, ao que cai, o esquecimento; ao
que se levanta, o poder e toda a sua rica periferia.
E o que se eleva
o faz do meio do populacho, geralmente fazia parte do antigo séquito, não
existe escrutínio ou eleição aparentes – algumas vezes, quando existe tempo, o
rei que se vai coroa o rei que vem, quando não o há, o séquito se reúne e
aponta o sucessor que é arrancado das entranhas da plebe.
Do mesmo jeito
que as elegias de despedida são descartáveis, não há para o que ascende um
ritual de coroação ou um decreto que o estabeleça, no momento seguinte à queda,
ao abrir o sol da cadeia, o novo rei se senta em seu trono (um puf velho e desbotado) e pronto – ele é
quem manda, os ninjas agora são dele e a população carcerária do pavilhão seus
súditos.
De modo geral,
nada muda, nada se aperfeiçoa, é mais do mesmo, o que se fazia antes, será
feito agora, ele seguirá a mesma cartilha que foi escrita pelo seu antecessor e
por toda a dinastia antes deles, alimentará a matilha com o fruto da corrupção
diária do lugar que são arrancados das mazelas humanas estabelecidas dentro da
cadeia: drogas, poder, lascívia e dinheiro, as sementes do diabo que fazem os
homens aos montes se perderem rumo ao inferno.
No segundo que
antecede a assunção ao poder do novo rei, neste casulo imediato uma metamorfose
ocorre e chama a atenção pela rapidez e pelo extraordinário, a humildade do
homem que foi servo escapa por um ralo qualquer e o que emerge é um novo rei
arrogante e autoritário.
E a cadeia segue
seu fluxo de rotinas engessadas, vidas enclausuradas, perspectivas limitadas ao
hedonismo que tem como seu maior expoente e protagonista o “voz”, o rei do
lugar... até que outro tome o seu lugar... e outro... e outro....