sexta-feira, 6 de junho de 2025

REI MORTO...

 


        ...rei posto.

Em nenhum lugar como na cadeia essa expressão popular ganha força como nesse ambiente fechado na busca pelo poder constante – na cadeia, esse ditado ganha ares de novidade diária, ali sempre há um rei tombando e, no segundo seguinte, outro se ergue para tomar o seu lugar.

A cadeia não derrama lágrimas pelo que vai embora, a tristeza é elemento estranho nesses casos; cadeia não segue e nem conhece funerais de reis, e sim, celebra o surgimento do novo monarca que se levanta sobre os escombros da queda do antigo imperador.

Tudo é muito simples e facilmente administrado pelo lugar, ao que cai, o esquecimento; ao que se levanta, o poder e toda a sua rica periferia.

E o que se eleva o faz do meio do populacho, geralmente fazia parte do antigo séquito, não existe escrutínio ou eleição aparentes – algumas vezes, quando existe tempo, o rei que se vai coroa o rei que vem, quando não o há, o séquito se reúne e aponta o sucessor que é arrancado das entranhas da plebe.

Do mesmo jeito que as elegias de despedida são descartáveis, não há para o que ascende um ritual de coroação ou um decreto que o estabeleça, no momento seguinte à queda, ao abrir o sol da cadeia, o novo rei se senta em seu trono (um puf velho e desbotado) e pronto – ele é quem manda, os ninjas agora são dele e a população carcerária do pavilhão seus súditos.

De modo geral, nada muda, nada se aperfeiçoa, é mais do mesmo, o que se fazia antes, será feito agora, ele seguirá a mesma cartilha que foi escrita pelo seu antecessor e por toda a dinastia antes deles, alimentará a matilha com o fruto da corrupção diária do lugar que são arrancados das mazelas humanas estabelecidas dentro da cadeia: drogas, poder, lascívia e dinheiro, as sementes do diabo que fazem os homens aos montes se perderem rumo ao inferno.

No segundo que antecede a assunção ao poder do novo rei, neste casulo imediato uma metamorfose ocorre e chama a atenção pela rapidez e pelo extraordinário, a humildade do homem que foi servo escapa por um ralo qualquer e o que emerge é um novo rei arrogante e autoritário.

E a cadeia segue seu fluxo de rotinas engessadas, vidas enclausuradas, perspectivas limitadas ao hedonismo que tem como seu maior expoente e protagonista o “voz”, o rei do lugar... até que outro tome o seu lugar... e outro... e outro....

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