À SUA BENÇÃO, MAMÃE!
A pequena senhora já carregada de
janeiros adentrou o raio com enorme expectativa, era nítido isso em todo o seu
corpo.
Do meio da turba que estava dentro do
pavilhão, um corpo sobressaiu algo agitado e foi de encontro a senhora que
entrava.
Pararam frente ao outro.
Olharam-se fixamente.
Corações batendo forte como se tambores
soassem em meio a balbúrdia do pavilhão.
Ele estendeu sua mão magra para ela –
pediu a benção.
Ela estendeu sua mão magra para ele –
deu-lhe a benção.
Tudo isso durou um instante mas foi
acompanhada por dezenas de olhares bisbilhoteiros, ele nunca havia recebido
visita antes, a massa carcerária estava curiosa.
Muitos dos que ali estavam nunca haviam
testemunhado aquela cena antes – um filho pedir a benção a uma mãe – muitos sequer
conheciam o que era benção, muitos sequer conheciam o que era mãe, assim, tudo
era estranho e tinha gosto de primeira vez, um gosto ácido para não dizer
azedo.
Alguém que já havia visto a cena e
realizado o ato, sentiu na boca um gosto de saudades – lembrou-se da mãe que já
partira e segurou com força uma lágrima que brotou do seio dessa lembrança e
queria jorrar feito cascata ali em meio a bandidagem. Corações duros evitam
emoções...
Outro, ficou com vontade de ser
abençoado, porque se deixou levar por caminhos que sugeriam materialismos e
futilidades.
Mas a velha mãe estava esquecida de
todas essas coisas, toda a sua atenção se voltava para o filho bandido.
Simplesmente o abençoou, com todas as
forças de seu corpo e sua alma, abençoou-o como se o fizesse a um santo, como
se fosse a última coisa que iria realizar, como se a benção fosse regenerar o
filho ladrão, como se ela pudesse tira-los dali e lança-los em voo para um
lugar que fosse somente deles. Mãe é sempre mãe, mesmo aquelas que são mães de
bandidos.
A verdade é que ela entregou tudo
naquela benção, seu entusiasmo, sua energia, principalmente sua fé. Uma fé que
a fazia sonhar que pela benção ela conseguiria transformar as ideias e os
apetites do filho, consequentemente, sua vida e sua realidade, porque há muito
tempo atrás ela havia entendido que sem Deus, no filho nada se regeneraria.
Ela entregou tudo naquela benção porque
para ela e somente para ela, naquele lugar e em toda a parte, não era um ladrão
que ela abençoava era seu filho.
E um abraço os uniram em frente a turba
emocionada.