Oito bilhões de pessoas no mundo...
... e tem momentos,muitos momentos,
que me parece,
muito me parece,
que só existe voce!!!!
Oito bilhões de pessoas no mundo...
... e tem momentos,
Lembrei
de você hoje,
Quando
entretido com a
Tecelagem
das obrigações diárias.
Chegastes
montada em um Pégaso
De
alvas lembranças,
Uma
epifania,
Um
sopro de possibilidades
(se
perto estivesses...),
Suspirei
profundo
E
esse suspiro era pura saudades.
Fiquei
esquecido de mim,
Afagando
você no desejo
De
ter contigo uma oportunidade
Arrancada
a fórceps
Desse
dia de responsabilidades.
Voei
até você... num sonho...
(sonho
de olhos abertos)
Atravessando
a distância
Que
mais me parecia um deserto,
Minha
vontade de te ver
Fazia
o longe ficar perto.
Quando
o dia me chamou
E
tive de prosseguir com a jornada,
Segui
como segue o rio
Em
sua caminhada,
O
destino do rio é buscar o mar
E
eu, minha linda, é te amar,
Amar,
amar, sem nunca acabar!
Procuras teu deus nos palácios,
Dentro
das cortes mais reais,
Meu
Deus não O verás nos luxos,
Meu
Deus nasceu entre os palhais.
Procuras
teu deus nas ruas de Roma,
Nas
faces dos poderosos do mundo.
Meu
Deus é um Deus de estábulos,
Meu
Deus vive entre os moribundos.
Teu
deus é o deus das realizações,
E
no sucesso oferece para ele oblações,
Não
percebes... aí está suas limitações?
Com
meu Deus o fraco é sempre forte.
Com
meu Deus perder é boa sorte.
Com
meu Deus jamais verei a morte!
Muito tempo
atrás que já se perde na memória até dos mais antigos, existiu um pavilhão que
o distinguiu pelos seus cuidados exacerbados com a disciplina do lugar.
Era algo
inacreditável para uma cadeia daquele porte.
Encima da
disciplina da polícia, que naqueles tempos era muito rígida, os internos
colocavam a sua própria e, pasmem senhores, ninguém, absolutamente nenhum dos
presos do lugar escorregava na obediência...
... e estamos a
falar de bandidos, alguns de alta periculosidade e acostumadas ao mundo do
crime e aos sofrimentos da cadeia, mas, dentro daquele pavilhão se adequavam em
fina sintonia ao regramento imposto pelo ambiente.
Eu nunca me
enganei com eles!
Ali ninguém era
(e nunca foi) santo. A rígida disciplina era uma estratégia recheada de alguma
sabedoria aleijada que tirava a atenção e os olhares da polícia de sobre o
lugar – a fórmula era quase matemática – sem problemas, polícia longe; com problemas,
polícia perto.
Assim, diante de
tal equação que se transformou em um lema, o voz do lugar organizou uma equipe
de profissionais competentes multidisciplinares que somente se apresentavam quando
se faziam exigidos os seus serviços – estas ocasiões apareciam quando algum
preso, de alguma forma, apresentava-se na grade de segurança para incomodar a
polícia – então, estes competentes profissionais escalados a dedo pela
liderança do pavilhão entravam em cena despejando excelência e profissionalismo
inigualáveis no desempenho de suas funções.
A formatação
dessa equipe, reconhece-se, foi um achado, um daqueles golpes de sorte que a
vida raramente oferta. Qual a chance de encontrar todos esses valorosos
operários do saber juntos, ao mesmo tempo, no mesmo lugar? Quase nenhuma... mas
nesta época, conseguiu-se esta façanha graças a visão do líder do pavilhão, um
homem a frente de seu tempo.
A equipe, se
ainda me lembro, tinha alguns terapeutas ocupacionais, psicólogos, psiquiatras,
um fonoaudiólogo que ensinava aos coitados com pouca dicção a falar a língua do
lugar, entre outros que a memória falha me faz esquecer.
Sei que quando
eram acionados, se aproximavam com uma calma franciscana do preso que estava
dando problemas, o relações públicas (a equipe também possuía um) convidava num
sussurro delicado para que o indisciplinado o acompanhasse, o abraçava com um
carinho quase exagerado passando o braço num gesto afável pelo pescoço do
reeducando e o levava para uma cela que servia as vezes de consultório.
Algumas vezes,
raras vezes, o preso indisciplinado tentava argumentar mas o relações públicas
(somente ele falava) os outros da equipe somente observavam, dizia: Calma!
Vamos conversar, vamos conversar, vamos resolver tudo lá dentro...
(Lá dentro era o
famoso consultório...)
Que trabalho excepcional!
O convite, a
entonação da voz que passava segurança para o preso que seria atendido, as
palavras cuidadosamente escolhidas em frases quase que poéticas, a forma do
abraço, tudo era extraído de uma perfeita didática construída aos labores de
anos de cadeia e estudos arqueológicos e sociais, uma performance digna de ser
estudada em universidades e que eu muito parcamente tento registrar – meu testemunho
não faz jus a esses profissionais, reconheço e me desculpo.
Quando o
indisciplinado entrava na cela (ops! consultório) a porta se fechava e a
terapia começava, aí sobressalta outra qualidade dessa gente singular – odiavam
a exposição desnecessária, detestavam a publicidade, o anonimato era o seu
segredo, sua realização pessoal e seu prazer era bem realizar o seu trabalho.
Nunca se soube,
pelo menos até onde eu conheça, que houve um preso submetido a estas terapias
que retornou para dar problema... reincidência com essa gente, não existia.
O sistema
deveria aprender com eles....
Todos diziam na cadeia que aquele preso
não era certo...
Certo aqui
aponta para problemas mentais...
Todas as manhãs,
antes da troca do plantão, antes mesmo da realização do confere geral, colava
seu rosto na boqueta de sua cela e orava para Deus e todo mundo, isso não sendo
força de expressão.
Aos domingos,
nos dias de visitas, vestia um terno que havia ganho e que deveria ser uns dois
números maiores que ele e saia com sua Bíblia para o solário, andava por aqui,
andava por ali, entretido consigo mesmo em meio à multidão de internos e
externos que se misturavam nas caminhadas.
De repente,
iniciava um sermão, pregava alto como se o céu devesse escutar, falava sobre
arrependimento de pecados, salvação e do sacrifício de Jesus pela humanidade.
Pregava
direitinho...
Mas, como não
era certo, segundo a teoria em voga na cadeia, pouca gente o escutava.
Ele sabia
disso...
Não se
importava...
Arrancava da
memória falha, aqui e ali, alguns versículos bíblicos bem pertinentes com o
sermão e seguia em frente em seus alertas escatológicos: Jesus está voltando!
Arrependam-se!
Naquele dia, em
especial, um policial penal pegou-se a prestar atenção nele e em sua pregação
no deserto árido da cadeia – ele estava sozinho, sozinho em meio à multidão que
caminhava entretida com as coisas da carne.
A uma certa
altura de sua prédica, mandou um questionamento que serviu como retórica: “Sei
que vocês pensam que sou louco...” Deu uma pausa e olhou para a multidão que
passava, em seguida respondeu a ele mesmo. “Sou louco por Jesus!”
O policial
entretido com o sermão do pregador, pegou-se a perguntar-se: “Será que esse
preso é louco mesmo? ”
A pergunta ficou
no ar, flutuando, esvaindo-se no vento, esquecida de uma resposta.
Então,
levantou-se para os afazeres rotineiros e sua alma respondeu:
“Louco ou não,
nesta tarde, ele é o homem mais lúcido desta cadeia. Jesus está mesmo
voltando...”
O ladrão colou na área de segurança do
pavilhão e pediu seguro.
A polícia fechou os bretes isolando o
preso num limbo e depois o retirou com segurança, a ele e a sua tralha que
consistia numa sacola velha de roupas sujas, um colchão surrado e fino e um
monte de bugigangas.
Seguiu-se a praxe: geral no preso e em
seus pertences, assinatura no papel que caracterizava a medida preventiva de
segurança pessoal e, na sequência, o preso sendo isolado em pavilhão específico
para essas situações.
Antes disso, o policial perguntou ao
preso o motivo do seguro, já que esta medida é sempre extrema (pelo menos devia
ser...), porque não existe dignidade para o preso em sair jogado do raio, além
do mais, o isolamento para onde se vai é um pavilhão onde as dificuldades
florescem que nem mato sob sol e chuva.
O interno, não se fez de rogado e
entregou o jogo.
O “voz” do raio chegou até ele, no
início do banho de sol, e alertou que a sua cabeça estava a prêmio e não tinha
como garantir a sua segurança pessoal e não queria problemas no raio, pois isso
atraía a polícia. Ladrão tem alergia a polícia. E, terminou dizendo, como
querendo fazer piada que “defuntos sempre fedem...”.
Com esta informação alcançada pela
polícia foram tomadas as devidas precauções para a segurança deste preso que
chegou na cadeia com uma etiqueta de preço colada na testa – havia matado em
sua cidade o filho de um figurão e alguém tinha dado a missão: apresentem o
cadáver do assassino e o pix será feito na hora. Essas coisas inflamam a bandidagem...
O seguro foi alojado e a cadeia seguiu o
seu fluxo massacrante de rotina, os dias viraram meses e os meses se amarelaram
em anos e tudo sobre esta história parecia realmente esquecido, nem mesmo o
preso que fora seguro se lembrava mais que sobre ele pesava uma sentença e um
preço.
Um dia, dia qualquer, tão gorduroso de
rotina quanto qualquer outro dentro da quimera, o preso que fora seguro
amanheceu dependurado numa cela e, como sempre, ninguém viu nada, ninguém sabia
de nada.
Cadeia é bicho estranho... traiçoeiro
mesmo...
Deus perdoa sempre... o homem perdoa as
vezes... cadeia não perdoa nunca...
É... Quem com o ferro fere, pelo ferro
será ferido...
Quero
estar perto de você,
Bem
perto,
Tao
perto que o estar perto
Será
apenas um eufemismo
De
proximidade.
Se
fores orvalho,
Serei
a relva.
Se
fores a lua,
Serei
a noite.
Se
fores o sol,
Serei
o girassol.
Se
fores um beija-flor
Serei
a mais atrativa rosa.
Se
fores um rio,
Serei
um peixe.
Se
fores o ar,
Serei
o pulmão.
Se
fores o céu azul,
Serei
as brancas nuvens.
Se
fores castanheira,
A
rainha da floresta,
Serei
o solo para suas raízes.
Estarei
sempre em você,
Tao
perto de você,
Tão
unidos
Que
sem você
Jamais
poderá haver a mim.
E,
aos olhos de Deus
(e
dos homens)
Seremos
apenas um...
Eu
e você... apenas um!