terça-feira, 1 de junho de 2010

MEU PEQUENO JARDIM


... e meu jardim resumiu-se ao pinheiro e uma roseira. O pinheiro, por sua própria espécie rude, sempre mostrou-se forte e independente, um ente com vontade própria e ânsia de liberdade. “Dê-me água!” pedia, “... e o resto é tudo comigo!” Arrogante meu pinheiro, mas assim sempre o foi, ele seguiu sempre solitário, satisfeito, arrotando sua independência.

A roseira, ao contrário, sempre foi frágil. A ela dediquei alguns cuidados e sempre se mostrou satisfeita com eles. Olhava-a com carinho, acariciava suas folhas, cheirava sorrindo suas flores, podava-lhe os talos e as pontas secas, limpava sempre seu espaço, irrigava-a, dedicava a ela fartos pedaços de mim, ainda que, a bem da verdade, meu conhecimento de jardinagem não consiga encher uma xícara.

Num dia qualquer, a roseira apareceu mal, doente, debilitada, vários galhos estéreis, secos. Ofereci alguns cuidados esmerados e emergenciais, todos aqueles que acreditei mais honestos, não houve jeito, tão rápido quanto foi o adoecer foi seu morrer. Meu pequeno jardim sofria uma perda irreparável, perdia-se a poesia, a beleza, a suavidade, a sensibilidade; ao lado, o pinheiro, imponente, ar mais arrogante impossível, testemunhava minha dor com olhos de “Eu sou um sobrevivente”, mostrando sua insensibilidade doentia por meio de um egoísmo aleijado.

Tive de me acostumar a não ver mais as belas rosas vermelhas, tive de me adaptar ao deserto que ficou no pequeno espaço quadrado de terra onde ela morou em vida e na minha retina todas as manhãs ao acordar e ir até a janela.

Um dia, vi que no lugar da roseira nascera um pé de mamão, como a semente fora parar ali é um desses mistérios da natureza. Ele apareceu pequenino e cresceu rápido. O pinheiro não gostou, no meu pequeno jardim ele sempre fora o forte, o Golias, o gigante, não via com bons olhos a invasão desse intruso que vinha para lhe arrancar o protagonismo solitário de seu monólogo em meu jardim.

Fiquei contente com isso.

Sempre vi o pinheiro com pouca gentileza, nunca gostei de sua soberba, empáfia e jactância. Desconfiei até que, de alguma forma, o infeliz fora responsável pela morte da minha meiga roseira. Nunca lhe atirei isso na cara, pois nunca tivera provas, e o deixei ficar... ainda que fosse um sentimento bizarro, nutria algo pelo arrogante pinheiro.

O pé de mamão cresceu e deu belos frutos e um dia, à mesa, quando partia uma de suas frutas para mim e as crianças, perguntei-lhes:

- Meninos, e a roseira?

Eles, com as boquinhas coloridas do alaranjado doce mamão responderam-me uníssono:

- Que roseira, pai?

E, cravaram seus dentinhos de leite na tenra carne do mamão, desinteressados. Olhei para o generoso pedaço de fruta em minha mão, mordi-o com euforia e sai para o quintal cuspindo as sementes.

- ... é mesmo, que roseira? Pensei olhando o mamoeiro altivo.

Meu coração lacrimejou, nessa hora, saudoso da roseira; meu estômago comemorou em júbilo, o mamoeiro. A vida continuava no meu pequeno jardim, diferente, mas continuava...

7 comentários:

  1. O belo traz a beleza da alma.
    O "útil" traz a satisfação da carne.
    Gostei muito de seu texto.
    O desenrolar da história é contagiante.

    Doce beijo :))

    ResponderExcluir
  2. é sempre assim não é?

    as roseiras, e quantas coisas representam as rosas, dão lugar as necessidades cotidianas.

    belo texto

    abraços mon ami

    ResponderExcluir
  3. ...e a vida continua em nosso pequeno jardim...sempre sentiremos a falta da linda roseira,da beleza, do seu encantamento. Porém mais cedo ou mais tarde,não nos veremos mais sem o delicioso sabor daquele mamão em nossa boca...
    Ai meu amigo, tantas interpretações para essa delicia de texto...!!
    Lindo demais.
    Como sempre...
    bjos

    ResponderExcluir
  4. Gilberto que beleza de crônica! Será que o mamão saiu com gosto de rosas?
    E assim seguimos na vida meu amigo, às vezes sem rosas pra encantar nossos olhos, mas com seu perfume na memória, não há como esquecê-las....beijos.

    ResponderExcluir
  5. Gil, meu querido tem selinhos la no Blog pra ti!
    Bjosssssss

    ResponderExcluir
  6. Olá Gilberto!
    Vim retribuir sua visita e conhecer seu blog. Andei por aí, li temas tão bonitos mas resolvi parar nesse jardim...
    Me deu uma pena danada a morte da roseira...ela me cativou da maneira que a descreveu.
    Nada contra o pé de mamão...
    Lindo momento!!!
    Um abraço
    Astrid Annabelle

    ResponderExcluir
  7. Obrigado por intiresnuyu iformatsiyu

    ResponderExcluir

No meio do caminho,
existem diversas coisas importantes...

... Tua passagem por aqui, me encanta, me anima!

No meio do caminho, tua visita, é uma dessas coisas importantes!

Grato pela tua atenção e paciência!
Que Deus derrame sobre tí bençãos sem medida!