As crianças eram três e chegaram com a avó.
Traziam um sorriso fácil nas faces petizes, uma energia apressada nas perninhas, um brilho de esperança no olhar e tudo nelas cheirava a posteridade. Esta é a grande diferença entre os adultos e as crianças, enquanto nestas vislumbra-se o futuro, sob a superfície dos crescidos se vê o pó cansado do passado.
O pai deles estava lá, frente ao portão, limpo e barbeado, vestindo o que parecia ser sua melhor roupa, o instante fardava-se de gala enquanto que sua vestimenta era do mais puro tecido do cotidiano.
Quando o portão se abriu e crianças e avó saltaram para dentro largaram-se todos eles em um repente de euforia que se ergueu sobre as poderosas forças dos beijos e abraços.
... E tudo durou muito pouco tempo, porque daí a pouco as crianças corriam pelo lugar, brincavam com um e com outro, entretidas com peripécias infantis. E eles, mãe e filho conversavam despretensiosamente encostados a um muro.
... E, de repente, tão rápido quanto pode ser um instante de felicidade na cadeia, chegou o momento de ir embora.
Ele, o pai, o preso, beijou a mãe com ternura e, nas crianças deu-lhes um abraço que concentrou neste ato todos os abraços esquecidos e perdidos entre eles até então... E, junto desses, cravou uma promessa de novos dias, de novos abraços, um comprometimento que a mãe fez força de acreditar, que as crianças receberam com vivas e aleluias.
As crianças foram embora levando com elas os mesmos sorrisos fáceis, a mesma energia apressada nas pernas, o mesmo brilho de felicidade em seus olhos e ainda resistia nelas o cheiro fresco de futuro. As crianças não se concentram no agora, elas não se preocupam com os porquês do presente, para elas, estas, são inquietações desnecessárias...
O pai ficou lá, em pé, preso, assistindo a família que ia embora, o brilho de uma lagrima que não caiu de dentro dos olhos se segurando na força que fingia ter.
Daí a pouco, como se ligasse numa outra voltagem, retirou-se da vista de todos e alojou-se no anonimato da cela. Pegou o cachimbo. Acendeu a pedra. Deu duas baforadas longas. Queimou algumas centenas de neurônios, deitou-se na cama com um sorriso estúpido na face, esquecido da mãe, dos filhos, dele próprio... A droga era mais forte que todos os abraços prometidos...
Lindo texto meu amigo!
ResponderExcluirTb ando sentindo falta dos seus abraços!
Bjs
Uau que texto bacanérrimo fiquei triste com esse final,mas tudo bem sei que é assim mesmo que acontece e é uma pena!
ResponderExcluirOBRIGADO POR COMPARTILHAR !
BEIJO
Querido amigo, meu blog Devaneios está completando um aninho de vida, e gostaria de convidá-lo para comemorar. Tem um selinho lá para você. Tenha uma linda semana. Beijocas
ResponderExcluirGilberto ,hoje li um texto imenso, aliás uma revista sobre o crak e seus efeitos deletérios e o por quê do vício fácil. É muito triste ser prisioneiro de si mesmo. Tua crônica diz bem do sofrimento gerado, mas a inocência da infância que não se contamina é de Deus, porque o contrário , que é mais comum, a degradação familiar é inevitável. Abraços fraternos.
ResponderExcluirLIndo demais teu texto.
ResponderExcluirSaudades daqui e de tuas visitas!
bjosssssss
Bonito texto, muito sensivel e cuidado.
ResponderExcluirEstes temas não são normalmente bem tratados, pois são de tal delicadeza que poucos lá chegam para sobre eles escrever.
Mas ... claro, tu estás sempre um pouco mais à frente, não é amigo?!!
Abraço, fica bem neste domingo.