domingo, 17 de maio de 2009

O SEGREDO DAS ABELHAS


Numa dessas tardes de verão, quando o calor me sugeria uma preguiça confortável, detive-me entretido com uma abelha em seu ritual de beijar uma flor. Estava desatento para as coisas do mundo, questionando minha própria existência.

A abelha beijava a flor escolhida com a dedicação de um amante apaixonado. E a flor, receptiva, abria-se voluptuosa ao toque suave de seu amante. Imaginei o que cochicharia a abelha para a flor nestes instantes de paixão?

Uma brisa fresca veio e me beijou a face, meus cabelos esvoaçaram-se ao sabor deste toque suave. Minhas narinas dilataram-se e senti a doce fragrância da flor enquanto gozava amores para seu amante. Ela se entregou de forma absoluta e singular, suas pétalas ficaram mais finas, suas cores mais vivas, seu aroma libertou-se exalando seu êxtase. O amor é o maior entre todos os ingredientes da beleza. A abelha, por sua vez, zuniu fortemente, e afastou-se num vôo incerto em busca de sua colméia, talvez para descansar um pouco, talvez para sonhar desesperada novas poesias para sua amante.

Pressenti interiormente que a abelha havia cochichado o grande segredo da vida para a flor, e ela, após este presente audacioso e singular, abriu-se de forma delicada para receber o beijo intimo de seu amante. A vida é curta e somente vale quando se a vive com amor! Porque o grande cesto dos dias logo logo estará vazio, e no ultimo dos frutos deste cesto estará a ultima possibilidade para a vida. Como não se sabe quantos frutos existem no cesto, disse a abelha à flor, coma o próximo fruto como se o último fosse.

Cheia de amor e diante de tal prova de paixão, a flor se entregou ao seu amante e, depois desse ultimo e desesperado gozo, depois deste último espasmo de sentimento, ela começou a murchar e, lentamente, foi-se desvanecendo até que sua lembrança ficasse sepultada na terra do jardim para adubar novas e apaixonadas flores e seus amores.

Enquanto isso, na colméia, a abelha sonhava com a flor, fazia poemas com acordes de epitáfios para ela e chorava a dor de sua perda. O amor entre as abelhas e as flores é tão intenso que se é realizado na forma definitiva, em todas as esferas possíveis. Abelhas e flores não se amam pelas metades, não buscam romances de folhetins, nem querem simplesmente se aquecer na fogueira das paixões instantâneas e descartáveis. O amor é breve porque a vida é urgente, ambos, abelha e flor, sabem disso intimamente... O amor entre abelhas e flores é vital, único, belo, cúmplice, amigo, solidário. A abelha entrega para a flor o que há de melhor nela e recebe dela, tudo o que ela tem dentro de si de mais perfeito. A flor ama não pela beleza do gesto de amar, mas pela necessidade de estar viva e, estar vivo, para a flor e para os amantes, é amar!

Fiquei meditando segredos, os das abelhas, os meus, os segredos de todo o homem e de como a minha história estaria sendo escrita...

2 comentários:

  1. Gil, que texto belíssimo...

    Fico muito grata por tê-lo lido, sem dúvida um movimento de rara beleza esse de abelha beijando a flor.

    Beijos para você e uma otima semana!

    ResponderExcluir
  2. Ei!!! Bem vindo ao Filosofia de pára-choque! Obrigada pelos comentários! Adorei ;)

    Vou dar uma passeada pelo seu espaço tb.

    bjobjo!
    Volte sempre.

    ResponderExcluir

No meio do caminho,
existem diversas coisas importantes...

... Tua passagem por aqui, me encanta, me anima!

No meio do caminho, tua visita, é uma dessas coisas importantes!

Grato pela tua atenção e paciência!
Que Deus derrame sobre tí bençãos sem medida!