terça-feira, 25 de outubro de 2011

O ÍNDIO DE BOTAS


Quando o índio apresentou-se a liberdade já havia lhe escancarado a porta.
Não demonstrou qualquer sentimento.
Não comemorou a liberdade que lhe sorria, parecia totalmente descomprometido consigo próprio. Sem alegrias, sem tristezas, somente a vida e sua sucessão de eventos.
O estado do índio era lamentável.
Trazia uma camiseta puída, uma velha calça jeans que lhe fora ofertada na cadeia e os pés marrons e descalços.
Isso chamou a atenção.
E o índio revelou que não conhecia sapatos. Nada cultural, pobreza extrema.
Alguém em alguma parte arrumou um par de botas de borracha, gênero sete léguas, que lhe foram calçadas aos pés grandes e chatos.
O índio de botas.
Ficou estranho.
E, ele se foi, desconfortável com as botas nos pés, desconfortável com a liberdade, sem saber o que fazer com uma e com outra.
E, mais tarde, bem mais tarde, quando chegou à sua casa em sua aldeia, ninguém o esperava, ninguém comemorou sua chegada.
Comemoraram as botas...

sábado, 22 de outubro de 2011

FRAGMENTOS DO DIÁRIO NUNCA ESCRITO POR MIM


Quando meu último setembro chegar e a última pétala de minha vida cair, eu estarei na floresta entre os lobos uivando lamentos...
Não chorarei a vida que se vai, sei que a estadia aqui é um instante mágico e estreito e até mesmo as mais belas flores murcham...
Meus lamentos encerrarão a amarga certeza cantada pela razão é que tudo que há aqui é mentira, a única verdade que me foi ofertada nesta bandeja de prata foi a de que iria mesmo partir.
Se fui feliz, sorri.
Se fui triste, chorei.
Se tive autoridade, agora é tola o bastante.
E se não fui nada de importante, ainda é mais estúpido.
Quando cair a ultima pétala tudo o que fui ou deixei de ser se tornará vazio e profano.

[...]

terça-feira, 11 de outubro de 2011

EMOÇÃO PALMEIRENSE


Esta foto explica, um pouco, o que é ser palmeirense!


Dedico a todos os palmeirenses esparramados por este mundo, especial a todos aqueles que, de alguma forma, fizeram parte de minha vida!


Em especial:


À mana, que nasceu palmeirense assim como eu!


Ao Henrique, que se tornou palmeirense depois de nascido, e a paixão tomou conta dele!



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

SOBRE FACEBOOKS E ARTIGOS DE DIREITO

O homem entrou numa das muitas paradas do ônibus.
Não olhou para os lados, escolheu seu lugar e largou-se com uma pressa algo exagerada. Sentou-se logo à minha frente, límpido para meu campo de visão.
O ônibus não estava cheio.
E como passageiros haviam, ainda, um casal adolescente, muito adolescente, que trocavam incessantes carinhos mútuos e beijos estralados. Mais à frente, uma mãe e o filho petiz, que insistia em seguir viagem de pé sobre a poltrona. Mais atrás, um velho senhor acariciava um cigarro de palha cuja matéria prima era um fumo fedorento – se questionava os motivos de não poder fumá-lo.
O homem, um rapaz high tech, abriu uma maleta negra e dela retirou um computador portátil. Puxou de algum lugar um drive que dá acesso remoto à internet e, pronto(!) em minutos, enquanto o ônibus devorava a estrada, ele navegava pelo mundo.
Foi impossível não bisbilhotar.
Lá estava ele em dezenas de páginas de facebooks. Despejou sorrisos e suspiros para os perfis de Ledas, Patrícias, Cintias, Natálias, Brunas e tantas outras garotas lindas e maravilhosas. E, mandou e leu alguns scraps, respondeu uma porção de e-mails com uma urgência eufórica, riu de algumas boas piadas que chegaram nestes correios eletrônicos e, por fim, entrou no MSN, ninguém estava on, seu mundo todo off, suspirou desanimado.
Insensível, sua consciência o convidou para estudar, abriu o Word em um artigo que tratava de procedimentos jurídicos. No monitor, o artigo subia, o artigo descia, ele olhou para o horizonte, olhou de novo para a tela, pela primeira vez na ultima meia hora incomodou-se com mais um (entre as dezenas que houveram) estalido de beijo entre os adolescentes e, subitamente, como se desmaiasse, dormiu... sem mais, sem menos... Sonífera matéria, pensei com sorrisos calados.
Entendi que facebook dá mais entusiasmo que artigos de direito e, sorri, apreciando a paisagem estéril da pós-colheita, sem condenar meu colega de viagem.
Enquanto isso, no resto do universo do ônibus, tudo na mesma.
Os adolescentes ainda se beijavam, quase acreditei que iam se devorar ali mesmo; o velho insistia num flerte com o cigarro de fumo que, dentro do veículo público, não ia dar casamento; e o guri, em dado momento, foi convencido pela mãe e os argumentos irrefutáveis de uma palmada a sentar-se em sua poltrona.
Voltei meu pensamento para minhas próprias coisas e todas as outras ficaram em algum quilometro lá atrás da viagem. Somos todos passageiros do mesmo ônibus, que nos conduz entre os mais diferentes destinos rumo à derradeira estação.

sábado, 1 de outubro de 2011

TODAS AS LUAS DE MINHA VIDA


à Katia


Lembrei-me de você hoje,
Nas primeiras horas do dia,
Quando a manhã ainda estava fresca da brisa da noite,
E quando os pássaros ainda bocejavam a madrugada.
Fiquei quietinho por um instante,
Sentindo as cobertas acariciarem meu corpo.
Uma lagrima se formou em um dos olhos,
Outra no outro,
Quis chorar, mas não o fiz.
Não deixei!
Minha felicidade merece sorrisos
E todas as lágrimas que molharam meu rosto,
Desaguaram em um sorriso forte e sustentável,
Que se manteve em meus lábios,
Comemorando você!
Lembrando você!
Não vou mais tornar saudades num momento de expiação.
Minhas saudades
De alguma forma me leva até ti,
E isso é bom...
E se é bom...
Comemoro com sorrisos.


Lembrei-me de você hoje,
Nas últimas horas do dia.
O sol há algum tempo já dormia
E a coruja caçadora fazia suas vitimas lá fora.
Ouvi o seu piar e o guinchar de sua presa.
Soube que a noite convidava a sonolência
Para vir deitar comigo,
E ao meu lado, somente saudades,
Esta dama formosa que insiste em flertar comigo.
Abri a janela,
Respirei fundo a brisa noturna.
Olhei o céu negro cravejado de estrelas preciosas.
Olhei para a lua,
A mesma lua que brilhou em Sesimbra,
E que agora, ilumina Odivelas.
Que as saudades sejam uma benção para ti,
Assim como são para mim.
Lembrar de você é estar permanentemente puro.
E, agora mesmo, enquanto dormes
Sob esta lua que brilha para todos nós,
Sinta-se abençoada por mim e por todos os anjos.
Saudades é um sentimento forte em mim,
E isso me faz melhor.
Meu amor é mais forte que saudades,
Isto me aproxima de você!
E você é o que mais se aproxima da perfeição,
A mais linda e querida entre todas as luas!