terça-feira, 19 de julho de 2011

PELAS ESTAÇÕES DA VIDA


Quero que saibas como eu sou
Para que entendas o mundo que represento.
Todos nós somos um universo,
Cada qual com suas próprias considerações,
E um vasto arsenal de particularidades.
Somos o que somos,
E tudo o que somos é resultado
Desta fórmula pouco comum,
Que junta nossos desejos com o destino,
Que junta nossas idiossincrasias
Com as minúcias que formam o outro.
Convergir tudo isso para um caminho comum,
É a grande matemática da vida,
Coisas têm de ser perdidas no trajeto,
Coisas têm de ser adquiridas no trajeto,
E tudo misturado dentro da gente.
Ás vezes dá certo,
E segue-se junto para todo o sempre.
Ás vezes não dá,
E vamos ficando pelo caminho
Nas muitas estações que se oferecem.


Eu poderei, algum dia,
Ficar em uma dessas estações.
E quando o teu trem partir
E teu rosto ficar colado na janela
Olhando para trás
E para tudo o que poderia ter sido,
Quero que vás com minha benção,
E tente na próxima parada
Encontrar para ti
O que eu não consegui ser para você.
Não te condenarei pelo que não fostes para mim.
Não haverá culpas entre nós,
Não percamos tempo em busca de culpados,
Busquemos a felicidade em outros rostos,
Porque a vida é curta
E não dá para ficar, para sempre,
Lamentando o passado.


Eu ficarei aqui, perdido numa estação fria,
Seguirei meu curso e tentarei ser feliz.
Mas quero que saibas que
Todas as noites,
Antes de me deitar,
Eu me lembrarei de você
E de seu corpo quente e branco.
Sentirei um arrepio de prazer
Ao lembrar-me das noites que fizemos amor,
E, em um breve instante,
Como se domando a vontade do destino,
Estarei contigo novamente.


E, se em algum lugar,
Voce pensar em mim dessa forma.
Lembrar-se de minha mão tocando teu corpo,
Os arrepios em sua pele sugerindo paixão.
A gente vai estar junto novamente...


Quem sabe,
Numa próxima estação,
A gente não se encontre de novo...


... E tudo pode ser diferente!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O INCÊNDIO

Tocaram fogo no mato.
E o fogo, por sua própria natureza arredia, que jamais reconhece e se submete a quaisquer senhores, ganhou uma proporção enorme. Ninguém controla o fogo, o fogo se controla.

Era outono e as noites nesta estação são mais ligeiras no chegar, lentas no partir.

Ainda que o quadro fosse de descalabro e todas as tragédias se mostrassem em cores vivas, havia naquele inicio de noite uma beleza macabra no fogo. O som do crepitar das chamas, o avanço inexorável e poderoso do incêndio, as labaredas altas que dançavam um tango “caliente”, o clarão que se erguia na noite expulsando-a com uma luminosidade tênue. Era o belo que escondia a fera, era o fogo.

Mas esse pensamento de admiração durou apenas um minuto, durou apenas o tempo de um espasmo de tolice, a razão tomou o seu lugar. Imaginei todas as mil tragédias que se escreveram naquele lugar, naquela tarde. Assisti a fuga dos lagartos e calangos; vi os coqueiros aterrorizados morrerem impassíveis e caírem silenciosamente – os coqueiros morrem com nobreza; ouvi o lamento dos quero-queros que voavam em círculos chorando o ninho que ardia; milhões de insetos fugiram e outros milhões pereceram nas lambidas do fogo. Quantas histórias malditas não serão contadas nesta noite?

De repente, o som da sirene, chegavam os combatentes das chamas, os soldados que destroem o fogo e, por este ofício, é quem mais o respeita. Trabalharam rápido, organizado, eficiente, mataram o incêndio e partiram da mesma forma que vieram, sem avisos na chegada, sem alardes na saída, alguém mais os reclamava e eles se foram.
Ficou a fumaça incômoda e a lembrança quente do incêndio. A natureza se recuperaria, ela sempre se recupera. A natureza somente sucumbe ao homem...

... foi quando, num canto qualquer do mato, um estralo de madeira soou e vi uma pequena labareda que surgia.
Ela olhou para mim...
Eu olhei para ela...
E antes de tudo e qualquer coisa, pisei-a no seu olho que, arrogante, me desafiava. Era o recado do fogo: Venceram-me nesta batalha, mas, eu volto, eu sempre volto, eu sou eterno...

Esqueci-me de recados e do próprio fogo, orei pelos bombeiros e fui em frente, a vida, este sim, um incêndio delicioso, me convidava para dançar...